Olá,
Na nossa #12 newsletter da W Fintechs você encontrará sobre:
Olimpíadas;
Símbolos;
Microcrédito;
E, claro, as principais notícias da semana que passou.
Boa leitura!
Quando as Olimpíadas surgiram na Grécia antiga, em 776 a.C, os principais objetivos dos gregos eram homenagear os deuses do Olimpo e pacificar as populações que estavam em guerra. Eram proibidos de competir os estrangeiros, os escravos e as mulheres. Apenas cidadãos nascidos em alguma das cidades-estado que formavam a Grécia antiga podiam competir. A importância do evento era tamanha que os helenos (aqueles que habitavam a Grécia antiga) obedeciam a trégua sagrada e no período olímpico abandonavam suas disputas e se dedicavam a atividades pacíficas. A vitória olímpica consagrava o atleta e representava glória para o seu local de origem. Em 394 d.C, no entanto, a situação se inverteu. O imperador romano Teodósio, que ficou conhecido por promulgar o edito de Tessalônica no qual reconhecia o cristianismo como religião oficial do Império e condenava, inclusive, o paganismo — proibindo a realização de festas pagãs —, fez com que as Olímpiadas só voltassem a ocorrer em 1896, quando o francês Pierre de Coubertin, apaixonado por esporte e por educação, resolveu resgatar a cultura grega e fundou, dois anos antes, em 1894, o Comitê Olímpico Internacional (COI).
Símbolos
Os aros olímpicos, concebidos por Coubertin em 1914, representam a união dos cinco continentes; as cores azul, amarelo, preto, verde e vermelho foram escolhidas por serem comuns às bandeiras dos países membros do COI; a Tocha Olímpica, que sai da Grécia e é transportada por atletas e outros cidadãos até o local da cerimônia de abertura, representa a paz e a amizade.
No livro O homem e seus símbolos, o psicólogo suíço, Carl Jung, enfatizou a importância da simbologia, arte, mitos e sonhos no desenvolvimento humano. Segundo ele,
“Há muitos símbolos, no entanto, cuja natureza e origem não é individual, mas sim coletiva. ” página 51, versão em português, disponível aqui.
São inúmeros os estudos, antigos e recentes, que relatam a importância dos símbolos na vida e na cultura dos povos. Símbolos traduzem convicções, valores e transformam pessoas e países. Cada sociedade possui os seus e desde o inicio das Olimpíadas da nova era, cada país fez o possível para transmitir ao restante do mundo seus símbolos, sua cultura. Na abertura da Tokyo 2020 tivemos a apresentação da cultura japonesa e símbolos que representavam votos para um futuro com mais esperança, diversidade e prosperidade.
Microcrédito
Entre os homenageados na cerimônia, estava o economista e um dos símbolos do combate à pobreza, Muhammad Yunus. Natural de Bangladesh, Yunus foi premiado pela criação da "Yunus Sports Hub", uma organização que promove o empreendedorismo social ligado ao esporte. A ideia é apoiar projetos esportivos autossustentáveis e que ataquem problemas sociais. Os projetos sociais sempre fizeram parte de sua vida. Em 2006, Muhammad Yunus foi premiado com o Nobel da Paz, após a criação do Grameen Bank, instituição especializada na concessão de microcrédito a pessoas de baixa renda. À época do Nobel, os tomadores de empréstimo do Grameen chegavam a 3,8 milhões de pessoas. Hoje, são mais de 9 milhões.
Há diversos estudos que observaram que nos locais onde havia as atividades do Grameen, o grau de pobreza diminuiu, assim como houve um aumento dos salários dos trabalhadores locais. Os autores dos estudos concluíram que o crédito teve um significativo efeito sobre o bem-estar dos domicílios mais pobres em Bangladesh, e esse efeito foi maior quando a mulher era a participante do programa. O crédito oferecido a mulheres afetou significativamente os seis comportamentos analisados, enquanto para homens, apenas uma das seis variáveis foi afetada. Como exemplo, a variação de gastos de consumo domiciliares aumentou em 18 takas (moeda de Bangladesh) para cada 100 takas emprestados para as mulheres, e somente em 11 takas, quando quem tomava o empréstimo era o homem [referência 1].
Em um dos maiores estudos sobre dados reais de hipotecas já feito, os economistas Laura Blattner, da Universidade de Stanford, e Scott Nelson, da Universidade de Chicago, mostraram que as diferenças na aprovação de hipotecas entre grupos minoritários e majoritários tem como um de seus fatores o fato de que grupos minoritários e de baixa renda têm menos dados em seus históricos de crédito, o que prejudica a análise e predição dos modelos estatísticos.
“Our results highlight a mechanism by which a credit scoring system can perpetuate credit misallocation over time: disparities in credit access at one point in time translate into disparities in credit report information in the future, a persistence that might be termed “credit score hysteresis” in the tradition of Blanchard and Summers.“ página 6, disponível aqui
A dificuldade de acesso ao capital produtivo nos países em desenvolvimento é uma das causas da pobreza de parte significativa de suas populações, fazendo com que perpetuem em um círculo vicioso: a produção no nível de subsistência não permite a acumulação de capital para investimentos em poupança ou ativos, inclusive atividades produtivas, o que gera baixos níveis de produtividade e continuação da pobreza. Adicione-se, também, o fato de que aqueles que desejam realizar empreendimentos produtivos encontram-se excluídos do sistema financeiro e, nesse contexto, o microcrédito — a concessão de empréstimos de valor relativamente pequeno para atividade produtiva — tem o potencial de desempenhar o papel de elemento promotor do desenvolvimento social e redutor de pobreza.
Contudo, há um problema no microcrédito em relação ao aumento de produtividade. Em uma live recente para o Bem Estar Capital, o economista Luiz Esteves falou sobre isso [disponível aqui]. Na maioria das vezes, o microcrédito funciona através dos grupos solidários e com um ticket médio muito baixo, em relação ao crédito tradicional, e à medida que o grupo solidário paga no prazo e no valor estabelecido, há um progressivo aumento do ticket médio e do prazo, mas há um limite para essa progressão; quando há a passagem do microcrédito para a entrada no crédito tradicional — onde há sistemas de garantias e muitas vezes essas pessoas não possuem bens como capital, ou seja, não possuem escritura ou algo do gênero, o que impossibilita a oferta do bem como garantia [referência aqui] — ocorre o que Esteves chamou de “lapso perdido”. Os prazos são maiores e o ticket médio acima do que era realizado anteriormente, o que reflete em maiores riscos para o banco ofertante e consequentemente custos maiores para os demandantes.
A nova fase do Sistema Financeiro refletirá exatamente nesta maior inclusão creditícia e bancária. Iniciativas do BACEN e FENASBAC entram em sinergia para um grande avanço no combate a este cenário que se estabeleceu no Brasil nas últimas décadas. O Open Finance, o Cadastro Positivo, lançado em 2019, são algumas das iniciativas que visam diminuir a assimetria de informação - discutidas brevemente na edição #11. Além das iniciativas institucionais, há fintechs que já se debruçam em resolver parte deste problema, como a Baduk, que oferece capital de giro para pequenos empreendedores, e a Veriza, que oferece microcrédito para grupos de microempreendedores com o aval solidário que reduz a inadimplência quando comparada com a inadimplência de crédito individual. No entanto, mesmo com o crescimento das fintechs de crédito no país, elas ainda representam uma base pequena comparado ao mercado de crédito total. Em dezembro de 2020, por exemplo, a carteira de crédito originada por fintechs de crédito atingiu R$ 8,4 bilhões, segundo o BC [matéria completa aqui]. Ainda há muito o que avançarmos. As iniciativas citadas acima são só parte da solução, mas não resolverão o problema por completo. Como dizem no mercado financeiro:
Nunca coloque todos os ovos na mesma cesta.
Vamos para as
Principais notícias da semana
Por quê os juros para micro, pequenas e médias empresas são tão altos no Brasil?
A formação das taxas de juros é uma equação complexa. No Brasil, particularmente, temos diversas variáveis que influenciam - desde a alta taxa de inadimplência, dificuldade para recuperação das parcelas em atraso até encargos tributários elevados. Esses fatores contribuem para que o país tenha as mais altas taxas de juros do mundo. E pior: quanto menor o cliente, mais altas essas taxas.
Para Milton Luiz de Melo Santos, presidente da ACCREDITO SCD, seria preciso mexer em questões estruturais para mudar essa situação. “O excessivo lapso de tempo incorrido pelos agentes financeiros para receberem de volta os créditos inadimplidos, em decorrência da insegurança jurídica, pesa na composição dos spreads, bem como a elevada carga de impostos incidente sobre suas operações”.
70% dos brasileiros já possuem conta em uma fintech, diz pesquisa
Uma pesquisa realizada pela Quanto em parceria com a Constellation aponta que a tendência entre os usuários de smartphone no Brasil é manter diversas contas bancárias — com os jovens priorizando uma fintech no dia a dia. Ao todo, 16 instituições foram mencionadas pelos entrevistados, incluindo os cinco maiores bancos do país. Entre os entrevistados, 75% possuem conta em mais de um banco, e 70% têm uma conta em uma fintech. No geral, um em cada quatro mudou de instituição financeira no último ano.
Além disso, as gerações mais novas não são tão fiéis aos bancos: das pessoas com menos de 30 anos, apenas 27% mantiveram a mesma conta bancária como principal por mais de 3 anos — versus 67% do público com mais de 50 anos no mesmo período.
Méliuz anuncia compra de empresa que negocia criptoativos em aplicativo
A Méliuz (SA:CASH3) assinou contrato para compra da Alter Pagamentos, empresa especializada na negociação de criptoativos. Conforme informou em fato relevante nesta quinta-feira (29), a transação envolve o valor de R$ 25,9 milhões e está sujeita a condições e ajustes de encerramento.
Segundo a companhia, a aquisição busca trazer um time talentos de empreendedores e de desenvolvedores, além do conhecimento em um segmento de negócios de alto crescimento que poderá contribuir como uma boa ferramenta de engajamento e atração de novos usuários para a Méliuz.
Insurtechs já captaram cerca de US$ 50 milhões este ano
Os números deixam clara essa tendência. Neste ano, até agora, foram investidos US$ 49 milhões em insurtechs no país, num total de nove deals, segundo dados levantados pela empresa de inovação Distrito. Em 2020, o volume de investimentos somou US$ 92 milhões (nove deals), cifra mais de três vezes superior ao que fora registrado (US$ 28 milhões em dez transações) em 2019. Um ano antes, o segmento tinha movimentado apenas US$ 4 milhões (cinco operações); em 2017, US$ 1 milhão (três transações).
Segundo os dados do Distrito, o numero de insurtechs triplicou nos últimos cinco anos. Passou de 37 em 2015 para 109 no total, no ano passado.
Cenário Global
71% of UK Digital Bank Customers Want Embedded Insurance Offers Based on Transaction Data
The findings show that 71% of British digital bank customers would be highly interested in receiving embedded insurance offers based on their transaction data, as would 64% of traditional bank customers. ‘Convenience’ is the primary driver for their interest, stated by 49%.
“The past 15 months has accelerated the volume of digital activity, alongside a massive growth in attach rates for protection products,” said Daniel Poole, Head of Strategic Partnerships EMEA for Cover Genius. “Banks, neobanks and financial institutions have an opportunity to better serve their customers with embedded offers by adding value to major purchases with a tailored, convenient insurance offer”.
Recomendação de leitura
Dando continuidade ao tema de regulação de fintechs e bancos, a recomendação desta semana aprofunda um pouco mais sobre o tema. Com a chegada das fintechs, os bancos tiveram que se adequar a uma transformação digital inesperada — talvez não tão inesperada assim —, às vésperas do Open Banking, a discussão voltou à tona. Foi sobre isso que o fundador da Teros, Juan Pérez Ferrés, escreveu.
Boa semana e abraços,