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Há mais de um ano, escrevi uma edição sobre a economia dos criadores de conteúdo — seu tamanho, suas oportunidades e seus desafios. Na época, havia acabado de ser convidado para o LinkedIn Creator, programa global da plataforma de apoio aos criadores de conteúdo. Na semana passada, fui reconhecido como LinkedIn Top Voice. Agradeço a cada um de vocês que me acompanham aqui nesta newsletter e no LinkedIn. Conheci muitas pessoas incríveis que estão construindo coisas fantásticas para o sistema financeiro global. Espero que esses próximos meses sejam fantásticos para todos nós!
Abaixo, a edição de fevereiro do ano passado!
Publicado em 28 de fevereiro de 2022:
A pandemia alterou a forma como trabalhamos e a maneira como enxergamos nossas funções na sociedade. Em artigo recente para o The New York Times [link aqui], a editora geral da Slate Magazine, Noreen Malone, escreveu que estamos vivendo a era da anti-ambição. Pessoas estão deixando seus empregos, seja por conta de burnout ou porque não compactuam mais com suas funções ou valores da empresa em que trabalham.
A autora argumenta que a segregação entre profissionais “essenciais” e “não essenciais” ajudou ainda mais a fortalecer o fim da ambição profissional. Segundo a autora:
“To be told that society can’t function without you, and that you must risk your health to come in, while other people push around marketing reports from home — often for much more money — it becomes difficult not to wonder if “essential” is cynical, a polite way of classing humans as “expendable” or “nonexpendable.”” - Noreen Malone em The Age of Anti-Ambition, link aqui
Além disso, as circunstâncias econômicas e de saúde pública trazidas pelo avanço da pandemia, nos deixaram ainda mais esgotados em relação ao trabalho. Um estudo da McKinsey de 2021 mostrou que 42% das mulheres se sentem esgotadas, em comparação com 32% em 2020. Para os homens, os números foram de 35% em 2021, e 28% em 2020. As estruturas tóxicas de governança — que já estavam sendo questionadas por movimentos como o #MeToo e #ThankGodItsMonday — foram ainda mais interrogadas durante a pandemia.
Nos comentários do artigo de Malone, foram diversos os relatos de pessoas que deixaram seus empregos para perseguir suas paixões. Em um dos comentários mais surpreendentes, Kris G., de Minneapolis, relatou que após 7 semanas trabalhando 9 horas por dia de casa, ou no escritório “abandonado” uma vez por semana, ele decidiu desistir do trabalho e foi em busca de fazer aquilo que realmente gosta.
O comentário termina com a seguinte frase:
“Good for workers, finally waking up to the reality that your job is not your identity, it is not where you find inner peace and happiness, it is an exchange of labor for wages.”
As relações de trabalho estão mudando. O futuro do trabalho certamente ainda é uma incógnita, porém, uma outra classe de trabalhadores ganhou força nesta pandemia.
A Creator Economy
A internet democratizou o acesso à informação. Quero dedicar uma edição específica para as fases da internet — da Web 1.0 à Web 3.0 —, no entanto, de forma resumida, foi na Web 2.0 que vieram players como Facebook e Youtube.
No século passado, quem quisesse compartilhar suas opiniões, ou mesmo atuar, deveria ir até uma emissora de televisão (ou jornal) e implorar para que, ao menos, o escutassem. A Web 2.0 rompeu essas barreiras.
A internet possibilitou que um nordestino, do interior do Piauí, criasse um canal no Youtube e alguns anos depois se tornasse um dos criadores mais bem pagos e assistidos da plataforma — Whindersson Nunes. Permitiu que um senegalês desempregado criasse uma conta no TikTok e sem falar absolutamente nada, se tornasse dono de uma fortuna estimada entre $1,3 milhões e $2,7 milhões — Khaby Lame.
A própria transição do Youtube para o TikTok representou os avanços da internet, sobretudo da tecnologia. O Youtube com certeza permitiu que várias pessoas mudassem de vida e com os avanços tecnológicos — de câmera e hardware, especificamente —, está ficando cada vez mais democrático levar suas ideias para milhões — e às vezes bilhões — de pessoas.
O que é Creator Economy?
A Creator Economy refere-se aos negócios construídos por indivíduos autônomos com o objetivo de monetizar suas habilidades ou criações.
Plataformas como o Twitter, Instagram, LinkedIn, Youtube e Facebook abriram espaço para a economia de influenciadores como a conhecemos. Os gigantes desta indústria permitiram que esses criadores independentes acumulassem grandes números de seguidores, mas falharam em fornecer a eles um caminho para monetização direta de seus conteúdos. O Youtube foi a exceção, dando aos criadores 55% da receita de anúncios. Nos últimos 3 anos, a plataforma pagou US$ 30 bilhões aos seus criadores .
À medida que mais pessoas deixam seus empregos e começam a se dedicar cabalmente à criação de conteúdo, a monetização se torna um fator primordial. A Creator Economy é impulsionada por alguns fatores como:
Foco na individualidade: novas plataformas de produção de conteúdo permitem que as pessoas ganhem a vida de uma maneira que destaque sua individualidade e reforce seus interesses;
Acessibilidade/avanços tecnológicos: conforme a tecnologia avança, os custos de aquisição de um serviço/bem se reduzem, o que faz com que tecnologias antigas, antes inacessíveis para boa parte das pessoas, torne-se acessível para um número relevante de pessoas. Por exemplo, empresas como a Webflow, Wix, Airtable, tornaram fácil e acessível a produção de sites e aplicativos; editores de vídeos/fotos, que antes estavam restritos aos desktops e suas licenças eram caríssimas, foram levados para os smartphones, como o Kapwing, um editor de vídeos, GIFs e imagens para dispositivos móveis e para a Web;
Nova geração, novos interesses: cerca de 29% dos estudantes americanos não querem mais se tornar banqueiros, médicos ou advogados . A Geração Z representa um comportamento diferente de boa parte das outras gerações. Com interesses expressivos em flexibilidade e autonomia, muitos pensam em se tornar criadores de conteúdo, principalmente após os cases de sucesso em seus respectivos países de origem, como o Whindersson Nunes, no Brasil.
Categorias dos players da Creator Economy
A Economia dos Criadores pode ser dividida em 3 categorias principais de plataforma, como:
Curadoria de público: para tudo isso parar de pé, é necessário público. Desta forma, essa categoria de plataforma permite que os criadores publiquem seus conteúdos e interajam com seus respectivos públicos;
Monetização de público-alvo: as plataformas de monetização são outra ferramenta fundamental para a Economia dos Criadores. Elas dão suporte aos criadores para monetizar sua produção quando eles já possuem seguidores. Esses tipos de plataformas permitem que os criadores transformem seu público de fãs casuais em super fãs;
Gestão de comunidade: à medida que o criador conquista seu público e o monetiza, é necessário agora administrá-lo. Essa categoria de plataforma permite que o criador saiba quem foi convertido para inscrito pagante, assim como automatize o processo de pagamentos recorrentes.
A diferença entre Marketplace e SaaS
De acordo com a a16z [link aqui], há dois tipos de modelos para as plataformas de curadoria de público. Resumidamente, nas plataformas de curadoria de público com modelos de marketplace, os criadores contam com a própria plataforma para direcionar o tráfego de leitores e as assinaturas. Já no modelo SaaS, as plataformas podem ajudar na distribuição — fornecendo ferramentas de marketing, por exemplo —, mas são os criadores que direcionam seu próprio tráfego direto e assinaturas, sendo possível exportar e importar sua lista de assinantes a qualquer momento.
O Medium, por exemplo, se enquadraria no modelo de marketplace. A plataforma cobra dos leitores uma taxa de assinatura para acessar histórias em toda a plataforma. A quantidade de dinheiro que o criador ganha é proporcional à quantidade de tempo que seus leitores gastam lendo suas histórias.
Já no modelo de SaaS, tendo como exemplo o Substack, os criadores podem criar seus próprios modelos de assinatura e a plataforma coleta uma parte da receita de assinatura do criador.
Ou seja, os marketplaces são ideais para os criadores que desejam ser descobertos e ganhar público. Enquanto as plataformas SaaS geralmente fazem mais sentido para criadores já estabelecidos.
As movimentações da Creator Economy
A Economia dos Criadores está chamando atenção não só dos empreendedores — que estão aproveitando o crescimento no número de criadores de conteúdo para criar negócios que visam, sobretudo, garantir ainda mais a monetização recorrente dos conteúdos dos criadores — como também está chamando a atenção dos venture capitalists. À medida que a Creator Economy amadurece cada vez mais, os fundos procuram obter uma fatia deste bolo.
De acordo com a CB Insights, só em 2021 foram 46 deals com um financiamento total de mais de US$ 1 bilhão — em 2020, foram 62 deals, com um financiamento total de US$ 464 milhões.
O mercado já possui gigantes e grandes movimentações, como:
A plataforma de membros Patreon, que captou um série F de US$ 155 milhões com uma avaliação de US$ 4 bilhões;
A Kajabi, uma plataforma de cursos on-line que foi considerada a empresa com mais financiamento, de acordo com a CB Insights, tendo atraído US$ 550 milhões em investimentos com uma avaliação de US$ 2 bilhões;
E a plataforma de newsletter, Substack, que arrecadou um total de US$ 82 milhões com uma avaliação de US$ 650 milhões.
Conclusão
O mundo vive uma transformação profunda no mercado de trabalho. Pessoas estão deixando seus empregos, seja por conta de burnout ou porque não compactuam mais com suas funções ou valores da empresa em que trabalham — deixando enormes incógnitas sobre como será o futuro do trabalho.
Em paralelo, a Creator Economy ganha forma e aliados. As grandes plataformas de comunicação, como o Twitter, Instagram, LinkedIn, Youtube e Facebook abriram espaço para a economia de influenciadores como a conhecemos. Os gigantes desta indústria permitiram que esses criadores independentes acumulassem grandes números de seguidores, mas falharam em fornecer a eles um caminho para monetização direta de seus conteúdos.
A Economia dos Criadores busca solucionar este problema. Apoiada em três fatores, como o foco na individualidade, os avanços tecnológicos e uma geração que almeja mais flexibilidade e autonomia, a Creator Economy atraiu o interesse dos produtores de conteúdo, dos empreendedores e dos investidores — que só em 2021 investiram mais de US$ 1 bilhão nesses modelos de negócios.
A Economia dos Criadores colocou diversos desafios para os gigantes da indústria (Facebook, Twitter, Youtube) que hoje estão buscando novas estratégias para manter seus criadores em suas plataformas — como o Facebook, que anunciou que o Instagram criaria um conjunto de ferramentas para que os influenciadores pudessem monetizar seus conteúdos; ou o TikTok que lançou um fundo de US$ 200 milhões para investir em seus principais criadores .
Apesar de também ser conhecida como a “Economia da Paixão” — ou seja, as pessoas estão em busca de fazer aquilo que realmente possuem interesse —, a Creator Economy se desenvolve em um contexto em que as oportunidades da classe média estão diminuindo e a geração do Milênio e Z estão com números chocantes de dívidas . Independente do motivo do seu rápido crescimento — seja ele guiado pela paixão ou pela necessidade —, a Creator Economy está alterando o futuro do trabalho e à medida que a popularidade e a aceitação da sociedade aumentarem, o impacto desse segmento nas economias e no PIB será significativo.
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Inside Latin America’s Creator Economy: Rich in Influence, Poor in Cash 👈
The Creator Economy Explained: How Companies Are Transforming The Self-Monetization Boom 👈
Saúde e paz,
Walter Pereira