#FinOpen: Os desafios do débito automático e a chegada do Pix Automático
W FINTECHS NEWSLETTER #140
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Desde que o Pix foi lançado, em 2020, ficou claro que ele não era apenas uma ferramenta de transferência, mas um verdadeiro ecossistema digital. No ano passado, escrevi que os padrões técnicos adotados, alinhados à visão do Banco Central e do mercado de torná-lo um sistema de pagamentos evolutivo, possibilitaram o que hoje podemos chamar de ecossistema Pix.
Essa abordagem está longe de ser exclusividade do Brasil, mas a forma como o país conseguiu reunir diferentes peças em um grande quebra-cabeça chamado sistema de pagamentos é surpreendente — e também inspiradora para muitos outros ecossistemas digitais, nacionais ou internacionais.
O Pix Automático é exatamente isso: a continuidade natural de uma infraestrutura que agora se prepara para resolver um dos maiores gargalos do nosso cotidiano financeiro — a cobrança recorrente. Seja para academias, escolas, plataformas de streaming ou contas do dia a dia, o Pix Automático surge com uma ambição simples, mas poderosa: automatizar com inteligência, previsibilidade e controle do usuário.
O grande ponto de virada aqui é entender por que o débito automático tradicional nunca deslanchou como deveria. Quando analisamos a forma como o débito automático funciona no Brasil, fica claro que a dependência de convênios bilaterais entre empresas e bancos, e seu formato nada interoperável engessou essa funcionalidade. Uma fintech ou escola pequena, por exemplo, dificilmente conseguia acesso.
Na prática, o débito automático tradicional exige que a empresa firme um convênio com cada banco no qual deseja oferecer o serviço. Isso significa negociações individuais, processos operacionais distintos, e muitas vezes, uma estrutura técnica própria para cada instituição financeira.
Do ponto de vista regulatório, não havia uma norma que garantisse interoperabilidade ou acesso universal. A regulação do débito automático sempre foi fragmentada e deixava margem para práticas diferentes entre os bancos. Isso não só prejudicava a experiência do usuário como também criava barreiras para a inovação. Fintechs, por exemplo, ficavam à margem desse sistema, obrigadas a buscar alternativas como boletos ou soluções de cobrança menos eficientes e mais caras.
Casos como o das escolas particulares, academias de bairro e clínicas médicas ilustram bem essa limitação. Muitas dependem de boletos e enfrentam inadimplência elevada por não conseguirem integrar um modelo de cobrança automática eficiente. Sem escala, essas instituições perdem receita e tempo com processos manuais de controle e conciliação. O Pix Automático rompe esse modelo ao se apoiar na arquitetura já consolidada do Pix: um arranjo aberto, com regras claras, padronização técnica e amplitude de participantes.
Isso muda todo o cenário de implementação e de escala, uma vez que com o Pix Automático, qualquer Prestador de Serviço de Pagamento (PSP) pode ofertar a funcionalidade — desde que cumpra os requisitos técnicos e regulatórios estabelecidos pelo Banco Central. E isso vale também para os Iniciadores de Pagamento (PSIs), que ganham ainda mais protagonismo na lógica do Open Finance. Em outras palavras: a cobrança recorrente passa a ser um bem público digital, acessível a todos os tipos de instituição, do banco tradicional à startup em fase inicial.
Na prática, o Pix Automático funciona como um sistema de autorização e liquidação programada. O pagador recebe uma solicitação de autorização de recorrência (com valores, periodicidade e recebedor identificados), valida essa relação e, a partir dali, tudo acontece sem novas interações — salvo cancelamentos, atualizações ou notificações. O ciclo está todo mapeado: autorização via app, instrução de pagamento enviada, validação automática e liquidação via o SPI (Sistema de Pagamentos Instantaneos). Tudo em segundos, com rastreabilidade total.
O Banco Central não apenas criou regras claras — como limites de valor, estrutura de mensagens e fluxos de retentativa — mas também definiu uma UX mínima obrigatória. Isso significa que todos os PSPs devem garantir menus específicos para o Pix Automático, notificações configuráveis, histórico de autorizações e possibilidade de cancelamento em tempo real.
Essa padronização técnica é o que permite a escalabilidade da solução. A recorrência, por exemplo, é um objeto de dados completo: inclui periodicidade, valor fixo ou variável, teto de cobrança, data de início/fim e CPF/CNPJ das partes. Ela é criada por quem deseja cobrar e precisa ser confirmada por quem vai pagar. Tudo registrado, com status como "pendente", "confirmada" ou "encerrada". Isso reduz conflitos, evita abusos e reforça a governança e estabilidade do sistema.
Para o recebedor, o impacto é direto, pois garante maior previsibilidade de fluxo de caixa. Com autorizações ativas, é possível antecipar receitas, planejar o financeiro e reduzir a inadimplência. Com as retentativas intradia e pós-vencimento, o risco de falha por saldo insuficiente ou distração do cliente é significamente reduzido. Já para o pagador, o sistema traz praticidade, controle e liberdade: ele pode gerenciar tudo pelo celular, definir valores máximos por cobrança e cancelar a qualquer momento.
O Pix Automático também mexe na estrutura de custos. Enquanto os boletos têm tarifas fixas e os cartões envolvem adquirência, bandeira, chargeback e conciliação, o Pix traz uma lógica simplificada, com custo transacional bem menor. Isso significa mais margem para quem cobra e menos tarifa para quem paga.
Do ponto de vista do Open Finance, o Pix Automático também representa um ponto de inflexão. Pois se torna o elo que faltava entre os consentimentos e as execuções recorrentes. Com ele, o usuário pode autorizar pagamentos futuros com base em relações já existentes no Open Finance, e o iniciador cuida de tudo — da gestão da autorização à execução da cobrança.
Marketplaces, ERPs, plataformas de gestão escolar, apps de condomínio — todos podem embutir a funcionalidade e criar novas fontes de receita. Com uma infraestrutura plug-and-play, o Pix Automático permite monetização sobre pagamentos sem depender de adquirentes ou intermediários. É embedded finance na prática, com arquitetura moderna e regulada.
O Pix Automático inaugura uma nova era nos pagamentos recorrentes no Brasil, com uma lógica centrada no usuário, interoperável por padrão e desenhada para permitir maior escala.
Saúde e paz,
Walter Pereira
Disclaimer: As opiniões expressas aqui são de total responsabilidade do autor, Walter Pereira, e não refletem necessariamente as opiniões dos patrocinadores, parceiros ou clientes da W Fintechs.