#25: A grande aposta do momento: o setor de seguros brasileiro
W FINTECHS NEWSLETTER #25: 25/10-31/10
Olá,
Na nossa #25 newsletter da W Fintechs você encontrará sobre:
Justos;
Mercado de seguros brasileiro;
A inovação das insurtechs;
Futuro do setor;
E, claro, as principais notícias da semana que passou.
Boa leitura!
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Glossário do setor de seguros:
Prêmio: valor pago pelo segurado à seguradora para que esta assuma um determinado risco;
Sinistro: refere-se a qualquer evento em que o bem segurado sofre um acidente ou prejuízo material; assim, é o valor recebido da seguradora;
Apólice: contrato que formaliza a aceitação do risco objeto do contrato de seguro;
Resseguros: operação pela qual o segurador transfere a outro, total ou parcialmente, um risco assumido através da emissão de uma apólice ou um conjunto delas, assim, reduz-se a responsabilidade na aceitação de um risco considerado alto;
Insurtech: startups voltadas para o setor de seguros que buscam desenvolver sistemas digitais que simplifiquem o processo burocrático na contração de um seguro.
Na última semana, 25/10/21, a insurtech Justos captou mais de US$ 30 milhões na que foi considerada uma das maiores Série A da América Latina e uma das maiores do mundo — o cheque foi 4x maior que o tamanho padrão de uma Série A no Brasil e 20x a média das rodadas seed, como apontou o Brazil Journal.
A startup de seguros desenvolve uma tecnologia voltada para o seguro de automóveis. A proposta é precificar o seguro dos automóveis com base no comportamento dos clientes. Para tanto, a Justos faz medições com os celulares dos usuários para definir modelos de risco avaliando a qualidade da direção do cliente. Com isso, a empresa quer oferecer planos até 30% mais baratos que a média do mercado, além de oferecer descontos mensais com base na eficiência do consumidor, utilizando inteligência artificial. A startup opera através de uma parceria com uma seguradora — em um modelo conhecido como Managing General Agent (MGA) —, o que eliminou a etapa de obter uma licença da SUSEP (Superintendência de Seguros Privados).
Alguns dos motivos do valor tão expressivo
Já falamos bastante por aqui do quão aquecido está o mercado de inovação — global e brasileiro. O acesso à capital, cada vez mais disperso, tem ajudado as fintechs a tirarem do papel seus projetos e/ou expandir suas operações.
Com a Justos não foi diferente. Dois fatores, em especial, impulsionaram a captação:
Fundadores:
Na edição #18, falamos sobre o racional por trás dos valuations das fintechs. O poder de execução do time por trás da fintech faz toda diferença na tomada de decisão dos investidores. Por trás da Justos, há um espanhol, Antonio Molins; um mexicano, Jorge Soto; e um indiano, Dhaval Chadha.
O espanhol, Antonio, tem dois PhDs, um em medicina em Harvard e outro em engenharia no MIT. Antonio trabalhou durante 7 anos na Netflix, onde foi responsável por desenvolver o algoritmo que faz as recomendações de séries e filmes. Jorge foi co-fundador em duas startups e foi diretor de inovação do gabinete do Presidente do México. Já Dhaval fundou uma healthtech no Vale do Silício e vendeu a empresa em 2018.
Mercado e produto:
Além do time, o mercado que a startup está orientando o seu produto fortalece ainda mais o interesse dos capitalistas de risco.
“One myth is that venture capitalists invest in good people and good ideas. The reality is that they invest in good industries.” - Bob Zider, 1998
Desde sua captação em maio, quando captou R$ 15 milhões, a Justos lançou um aplicativo para começar a coletar dados dos seus clientes. A grande sacada do modelo de negócio da startup está na personalização do seguro conforme o perfil do usuário.
De acordo com Dhaval, o preço do seguro nas outras outras seguradoras são altos porque elas não avaliam o risco de cada cliente específico. Se há um jovem que dirige mal, ele impacta no preço de todos os jovens. A busca da startup é atrair cada vez mais motoristas melhores, e tornar motoristas médios ou ruins em motoristas melhores, através de incentivos. Para isso, a startup fez premiações para os melhores motoristas com três anos de seguro grátis — o que ajudou a formar uma fila de espera com mais de 12 mil pessoas interessadas em contratar o seguro.
Mercado de seguros brasileiro
As recentes inovações no mercado brasileiro têm impactado positivamente diversos setores da economia — o que tem tornado o mercado mais eficiente, competitivo e benéfico para o consumidor final. No setor de seguros não seria diferente.
Pouco tempo atrás, o setor de resseguros brasileiro, por exemplo, era intocável. Em 2007, o monopólio estatal do Instituto de Resseguro do Brasil (IRB), criado em 1939, foi quebrado através da Lei Complementar 126/07. A instituição colocava tarifas obrigatórias para todas as seguradoras e determinava os percentuais das comissões de corretagem.
Após a inicial abertura do setor, dezenas de resseguradoras foram licenciadas pela SUSEP, a maior parte delas eram estrangeiras.
Com preços melhores, as resseguradoras estrangeiras se destacaram no mercado. Com a alta competitividade, a Superintendência de Seguros Privados, visando proteger as empresas locais, mudou as regras do jogo em 2010. Conforme apontou João Marcelo dos Santos, em um artigo publicado na Academia Nacional de Seguros e Previdência, foi garantido às empresas brasileiras cerca de 40% dos contratos de resseguro. Isso permitiu que as corretoras locais tomassem a dianteira na hora de fixar preços. Além disso, o modelo de negócios adotado, sem nenhuma alteração significativa, contribuiu para uma evolução tímida do setor
De lá pra cá, o mercado de seguros brasileiro amadureceu e mudou um pouco — no entanto, o setor ainda é conservador e avesso a mudanças bruscas, em relação aos demais setores.
Amadurecimento do mercado de seguros
Em um relatório produzido pela Sincor, referente ao ano de 2020, foi destacado que mesmo em pandemia o setor de seguros se mostrou ser resiliente, o que resultou em um faturamento total de R$ 298,1 bilhões — variação de 1,4% em relação a 2019.
A seguradora que mais possui mercado é o Bradesco, com a Bradesco Seguros, com 22,36% e que em 2020 teve uma receita de R$ 73,7 bilhões; em seguida, vem a SulAmérica, com 10,86% e considerada a maior seguradora independente do Brasil; e, em terceiro lugar, a Porto Seguro, com 8,67% e com uma fatia expressiva de 27,57% no mercado de seguros de automóveis.
Em relação ao mundo
De acordo com o último relatório publicado pela Atlantico, em setembro, o mercado de seguros da América Latina está distribuído uniformemente entre seguros de vida e não-vida, sendo o automóvel o maior setor. No Brasil, a distribuição entre os seguros de vida e de não-vida é de 65% e 35%, respectivamente.
Em relação ao mundo, o relatório diz que o mercado de seguros latino-americano tem um potencial enorme de crescimento quando comparado com as economias desenvolvidas. Os prêmios de seguro representaram 4,1% do PIB brasileiro, em relação a 12,0% dos EUA e 8,2% do Japão.
A inovação das insurtechs
Esse potencial de expansão representa uma imensa oportunidade para as insurtechs — como a Justos, por exemplo.
Os principais players desse mercado têm os piores índices de satisfação ao cliente. Segundo dados da SUSEP de 2019, o Bradesco liderou com 16,4% das reclamações; em seguida, a Sabemi, com 9,4%; e, em terceiro, a Mapfre, com 6,2%.
As insurtechs surgiram para ajudar a mudar este cenário — trazendo competitividade e inovação. Em 2017, com um amadurecimento notável desse ecossistema, a SUSEP começou a promover reuniões denominadas como “Comissão de Inovação e Insurtech” com os representantes de órgãos que a auxiliam com as diretrizes do segmento, como, por exemplo, a Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), consultores empresariais e representantes dessas empresas.
À época, Joaquim Medanha, superintendente da SUSEP, afirmou que:
“A disruptura irá acontecer, mas ela não pode atravessar um mercado no qual há regras.”
Desde então, a Superintendência de Seguros Privados tem ficado cada vez mais antenada com o surgimento e crescimento dessas empresas.
Mercado brasileiro
Em 2018, de acordo com o Comitê de Insurtechs da camara-e.net, existiam 79 startups atuando no segmento, sendo que 72% desenvolviam soluções para seguradoras e corretores, 52% para o consumidor final e 66% para toda a cadeia.
Já em 2019, segundo um report divulgado pelo Distrito Dataminer, o número foi para 113. Sendo o Sudeste, a região com maior concentração, 74,3%.
NOTA: pelo Distrito e o Comitê de Insurtechs da camara-e.net serem instituições distintas, a metodologia empregada no levantamento pode se alterar.
Captações de investimento
No início da pandemia, a Deloitte destacou que apesar do COVID-19 e das consequências econômicas, o investimento total em insurtechs, até o primeiro semestre de 2020, era tão robusto quanto em 2019.
No entanto, o artigo afirmava que o investimento foi fortemente concentrado em um pequeno número de insurtechs, enquanto aquelas em estágio mais inicial enfrentavam mais dificuldades em levantar capital adicional devido à contínua interrupção da economia e às mudanças nas necessidades e prioridades do setor.
Já em 2021, dados do CB Insights mostram que o setor quebrou mais recordes, graças a mega-rodadas. As Insurtechs arrecadaram US$ 4,8 bilhões no 2º trimestre de 2021, um aumento recorde de 89% em relação ao 1º trimestre de 2021 e um aumento de 210% em comparação com o mesmo período do ano passado.
À medida que mais empreendedores buscam oportunidades para inovar, ocorre também uma maior diversidade geográfica. No segundo trimestre de 2021, houve, pela primeira vez, atividades de insurtechs fundadas em países como Botswana, Mali, Romênia, Arábia Saudita e Turquia. Além disso, houve atividade recente de regiões menos ativas, como Vietnã, Filipinas, Romênia e Grécia.
Futuro do setor
Seguradoras e insurtechs
Segundo um levantamento feito pela PWC em 2016, 74% dos entrevistados enxergavam as inovações das fintechs como um desafio para o seu setor — os principais motivos evidenciados eram a pressão sobre as margens e o surgimento de novas necessidades dos clientes e percepções de risco mais profundas, através do uso de novas tecnologias. O relatório dizia que as seguradoras estavam focadas em alcançar seus concorrentes através da centralização no cliente e mudanças na cultura interna.
No Brasil, para acompanhar as mudanças no mercado, a Caixa Seguradora criou a Youse Seguros e a Porto Seguro criou a Oxigênio Aceleradora, que seleciona e patrocina startups que tenham ligação com qualquer segmento funcional da corporação.
Open Insurance
A Susep tem se mostrado empenhada em se envolver com novas iniciativas que promovam benefícios para o consumidor e para o mercado, em geral, ampliando ainda mais a cobertura e transparência do setor — em 2020, por exemplo, a Superintendência criou o Sandbox Regulatório, visando flexibilizar a atuação de projetos inovadores e ampliar a competição no setor.
Acompanhando a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) e o Open Banking, o mercado de seguros brasileiro possui sua própria iniciativa de compartilhamento de dados, o Open Insurance.
No mercado de seguros, dados relacionados a apólices de pessoas físicas e jurídicas não são fáceis de serem compartilhados atualmente. Consumidores geralmente não podem usar um portal de seu segurador para baixar os dados de apólice, incluindo transacionais, em uma forma já estruturada e, consequentemente, não podem compartilhar, de forma segura e ágil, seus dados com qualquer outra instituição que possa oferecer melhores condições.
No Open Insurance — que será voltado para o mercado de seguros, previdência e capitalização e estabelecerá um ambiente seguro e ágil para que consumidores deste mercado possam exercer seus direitos previstos pela LGPD —, APIs permitirão que as instituições autorizadas, ou registradas, acessem as informações das contas de seus clientes, agreguem dados, prestem serviços e façam, por exemplo, pagamentos em seu nome ou encaminhem proposta de concessão de crédito. Os consumidores devem ser capazes de ver onde seus dados estão, entender com quem eles foram compartilhados e manter o poder de revogar facilmente seu consentimento.
Entre os benefícios esperados pela iniciativa, estão:
Otimização da busca por cotações;
Desburocratização dos contratos de seguro;
Agilidade na comunicação;
Portabilidade dos dados — o que facilitará a contratação;
Maior transparência.
Considerações finais
O Brasil, durante muito tempo, teve uma história amarga no mercado de seguros — um setor concentrado e com altos índices de insatisfação do cliente. Em 2007, por exemplo, gigantes estrangeiros do segmento de resseguros começaram a entrar no mercado brasileiro, após o fim do monopólio estatal do Instituto de Resseguro do Brasil (IRB), criado em 1939. Com o surgimento das insurtechs, a transformação no setor tem acelerado — e o posicionamento da SUSEP tem contribuído para isso. Ainda que o setor de seguros brasileiro seja conservador e avesso a mudanças bruscas, iniciativas como o Open Insurance e Sandbox Regulatório incentivam, ainda mais, a inovação e a competitividade.
A América Latina, sobretudo o Brasil, tem um enorme potencial para criar novos gigantes na indústria de seguros. A captação da Justos demonstrou parte deste potencial — sendo o valor da captação 4x maior que o tamanho padrão de uma Série A no Brasil.
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Vamos para as
Principais notícias da semana 📰
Ebanx compra Juno, fintech focada em micro e pequenas empresas 👈
Nesta quarta-feira (27), a empresas Ebanx anunciou a compra total da fintech brasileira Juno, de meios de pagamento para as pequenas empresas que operam no e-commerce. A Juno já tem porfólio com mais de 35 mil PMEs e empreendedores, todos usando pelo menos uma solução financeira da empresa. Na lista, estão as soluções de cobrança e pagamento, como boletos, Pix, e cartão de crédito, além da conta bancária da fintech, a Conta Juno.
De acordo com André Carréra, diretor de produto da Juno, “Este é um momento marcante na história da Juno. A confiança do Ebanx em nosso trabalho mostra o valor das nossas soluções e nos dá a oportunidade de expandir nossos serviços e negócios. Estamos muito felizes em fazer parte deste sonho”.
Nubank faz pedido de registro de IPO nos EUA e de listagem de BDR na B3 👈
O Nubank divulgou nesta quarta-feira (27) que fez pedido confidencial de registro preliminar de sua oferta pública inicial (IPO) de ações na Securities and Exchange Commission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA).
Nesse contexto da oferta nos EUA, o Nubank também protocolou perante a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a B3 pedido para registro e listagem de emissor estrangeiro, registro e admissão para a negociação de Brazilian Depositary Receipts (BDR) e registro de oferta de distribuição de BDRs.
‘Fábrica de fintechs’ Swap levanta US$ 25 milhões e mira expansão 👈
A ‘fábrica de fintechs’ acaba de levantar US$ 25 milhões (R$ 135 milhões) em uma rodada Série A liderada pela Tiger Global. Os recursos serão utilizados na expansão da empresa, visando contratações de novos talentos, incrementos em produtos para ampliar o atendimento aos segmentos já incorporados e lançamento de novas verticais. A receita da Swap tem dobrado a cada trimestre, ao mesmo tempo que o volume financeiro processado cresceu 30% ao mês nos últimos seis meses.
“Isso mostra que encontramos o caminho para um produto que o mercado realmente quer. Acreditamos que a expertise e as conexões deles com o setor vão nos ajudar bastante nos próximos passos”, afirma Douglas Storf, CEO da Swap, em comunicado.
Após receber aval para operar SCD, RecargaPay capta US$ 10 milhões 👈
A RecargaPay — aplicativo de pagamentos e serviços financeiros que acaba de receber aval do Banco Central (BC) para operar uma Sociedade de Crédito Direto (SCD) — anunciou nesta quinta-feira (28) uma captação de US$ 10 milhões — a maior parte (US$ 7,5 milhões, ou R$ 41 milhões) aportada pelo IDB Invest, membro do Grupo IDB, e o restante (US$ 2,5 milhões, ou R$ 14 milhões) investido por IDC Ventures.
Recomendação de leitura 👈
Os investimentos em fintechs estão em alta. Grandes bancos, visando não ficar para trás na disputa pelo cliente, estão investindo milhões de dólares nessas empresas ou fazendo parcerias. Enquanto nos EUA e Europa os bancos ainda não sentiram toda a força de ruptura dos grandes players da tecnologia, na China e em todo o sudeste da Ásia a realidade já é outra. As finanças estão cada vez mais sendo controladas por vias digitais — com gigantes no mercado, como o braço financeiro do Alibaba, Ant Financial, que já vale cerca de 50% mais do que o Goldman Sachs. Décadas de serviços caros e ineficientes explicam o sucesso das fintechs na Índia e China, agora a pergunta que fica é: qual será o futuro das fintechs e em qual direção elas irão seguir?
O Financial Times deu bons insights sobre isso.
Saúde e paz,
Walter Pereira