Olá,
Na nossa #10 newsletter da Walter’s Fintechs você encontrará sobre:
Petróleo;
Economia dos dados;
Big Techs e serviços financeiros;
E, claro, as principais notícias da semana que passou.
Boa leitura!
Quando, nos primórdios da civilização, os povos do Oriente Médio, Egito, Mesopotâmia e China tiveram o primeiro contato com um combustível fóssil chamado petróleo, a história do desenvolvimento econômico global começaria a mudar. No entanto, foi só em meados do século XIX que foi desenvolvido na Escócia o processo de refino deste óleo, assim, o petróleo passou a ser utilizado de diversas formas — da pavimentação de estradas à iluminação. Com o advento de outros países interessados em sua produção — e que contavam com a sorte em tê-los em seus territórios —, o petróleo se transformou na maior e mais importante commodity do mundo. O petróleo foi — e ainda é — a fonte de riquezas imensuráveis em diversos países do globo. No passado, esta commodity foi capaz de iniciar ou acabar com guerras; destruir ou começar países; ajudar ou interromper o combate à pobreza; enfim, o petróleo teve durante muito tempo uma hegemonia única na construção do que hoje conhecemos como civilização moderna. O seu tamanho, cada vez maior, não passaria despercebido aos olhares dos órgãos reguladores. Em 1960, foi criada a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), composta por países que representam cerca de 25% das reservas mundiais de petróleo. O principal objetivo era fortalecer os países produtores de petróleo perante o mercado consumidor, bem como coordenar e unificar as políticas relacionadas à exportação e circulação do petróleo no mundo.
No livro A maldição do petróleo, Michael Ross destacou como o dinheiro do petróleo pode ser utilizado no financiamento de regimes autoritários, precarização do trabalho e enfraquecimento dos direitos femininos. Apesar de algumas de suas teses — como a de que maiores reservas de recursos naturais levaria o país a desindustrialização, processo denominado como doença holandesa — não se confirmar empiricamente em alguns casos, por exemplo no Brasil [referências aqui, 1, 2], há de se considerar que o petróleo possui duas faces, boa e ruim.
Economia dos dados
Em maio de 2017, a revista britânica, The Economist, já destacava a influência e importância que o uso dos dados estava ganhando nas operações das empresas, sobretudo nas Big Techs. Na matéria [disponível clicando aqui], a revista destacou que assim como o petróleo, os dados estavam mudando o rumo da humanidade e haveria perigosas consequências neste avanço desenfreado - principalmente em relação a monopolização deles por parte das Big Techs, como Amazon, Facebook e Google. À medida que as tecnologias de análise e utilização dos dados, como o machine learning, avançam, os dados substituem o petróleo em relevância e valor e tornam-se, rapidamente, em uma nova commodity.
Em paralelo a esse movimento, as Big Techs desmantelam aqueles que durante anos viveram bons ventos: as empresas de petróleo. Nos EUA, o setor de petróleo e gás soma US$ 3 trilhões, no entanto, três empresas de tecnologia — Apple, Amazon e Microsoft — já somam valuations maiores do que todo o setor — só a Apple vale US$ 1,57 T. Ademais, em 2019, pela primeira vez em nove décadas, a ExxonMobil saiu do Top 10 do S&P 500.
Além dessa mudança, os três gigantes da tecnologia investem, consideravelmente, em energia limpa, mas pagam menos dividendos aos seus acionistas — o que pode indicar, algumas vezes, que o lucro está sendo utilizado para expansão de suas atividades. As Big Techs são mundialmente reconhecidas pelos incomparáveis usos dos dados em suas operações. A Amazon, por exemplo, utilizou da inteligência artificial para melhorar o seu sistema de recomendação de produtos — o que, de acordo com a McKinsey, representa 35% das compras da gigante do varejo. Além do seu sistema de recomendação, a empresa construiu um algoritmo para gerenciar a logística de sua operação, bem como possuí um exército de robôs, guiados por IA, para operar seus centros de distribuição.
O Facebook também não ficou distante deste cenário. Em 2018, o jornal The New York Times publicou que a rede social tinha vendido os dados pessoais de seus usuários para empresas como Netflix, Amazon e Microsoft, em troca de dados mais profundos desses usuários para melhorar o recurso de “Pessoas que você talvez conheça”. O conceito de economia de plataformas está intimamente ligado ao gerenciamento e análise dos dados. Em um artigo publicado no ano passado pelo MIT Management Sloan School, a autora exemplificou bem como o uso dos dados é importante no modelo de negócios de algumas empresas que estão tendo grande sucesso.
Como o caso da fintech Flywire, sediada em Boston, que agiliza os pagamentos internacionais e busca oferecer taxas inferiores das oferecidas pelos bancos. Os dados de pagamentos que processa permitem que a empresa entregue valor a seus clientes, mantenha uma vantagem competitiva e obtenha eficiência operacional a longo prazo [neste post, falei sobre a monetização dos dados de pagamentos].
O artigo destacou que empresas que privilegiam a análise de dados desde o início de sua operação, se diferenciam dos demais, melhoram seus produtos e escalam de forma mais rápida.
Big Techs e serviços financeiros
Nas gigantes de tecnologia, o uso dos dados já ultrapassa o core de seus negócios. Na nossa #6 edição discutimos se toda empresa poderia ser uma fintech. Com o movimento de embedded finance ganhando cada vez mais notoriedade, as Big Techs também querem aproveitar o mercado e o público que possuem para entregar serviços financeiros. Em Top Trends in Payments 2020, publicado em 2019, a Capegmini fez uma visão geral dos diferentes modelos e funções dos serviços financeiros promovidos por esses gigantes.
Guiadas pelo conceito de plataforma, elas adicionam cada vez mais recursos e serviços aos seus negócios, incluindo ofertas de pagamentos. Como foi o caso da Apple que lançou o Apple Card com Goldman Sachs e Mastercard e o Google que adicionou suporte a cartões de crédito e débito para o seu aplicativo Google Pay na Índia. As Big Techs têm atuado como agregadores de demanda, interagindo diretamente com os seus usuários, oferecendo opções e facilitando a tomada de decisões em questões financeiras. Ação que se correlaciona com os respectivos tamanhos, vasta coleção de dados, potencial de alcance e entrega.
É nítido que o rápido avanço dessas empresas ajudou e ajuda o desenvolvimento da nossa sociedade — seja pelas inovações que elas promovem ou pelos empregos que geram. No entanto, algumas regras do jogo estão mudando. Os dados, com a relevância que possuem, deram um poder enorme a essas empresas. Semelhante ao que ocorreu com o petróleo na metade do século passado, as Big Techs — e os dados — passaram a ganhar um novo observador: os órgãos reguladores. Na semana passada, o presidente norte-americano, Joe Biden, que teve como maiores doadores para sua campanha presidencial as Big Techs, assinou um decreto que pode reduzir a força das gigantes de tecnologia.
“O que vimos nas últimas décadas é menos competição e mais concentração em nossa economia. [..] Em vez de competir pelos consumidores, eles estão consumindo seus concorrentes. Em vez de competir por trabalhadores, eles estão encontrando maneiras de obter vantagem sobre o trabalho” - Joe Biden, durante a cerimônia de assinatura do decreto.
O movimento de proteção e consentimento que prevaleceu no setor financeiro — com os dados financeiros —, aparentemente atingirá essas empresas, uma vez que diversos órgãos reguladores passaram a observá-las com maior atenção. A competitividade justa provavelmente será um dos fatores principais para uma maior regulação das Big Techs — assim como já está ocorrendo nessa nova fase do Sistema Financeiro global.
Vamos para as
Principais notícias da semana
Banco Central adia início da fase 2 do open banking para 13 de agosto
O Banco Central informou na quarta-feira (14) o adiamento do início da segunda fase do open banking, que estava prevista para começar na quinta-feira (15). A nova data é 13 de agosto.
Segundo nota divulgada pelo Banco Central, o adiamento foi um pedido das instituições financeiras, que ainda estão finalizando os testes para implementação da tecnologia.
"Dado que as instituições participantes estão finalizando os testes para a obtenção de certificações para homologação e registro de suas APIs, o Banco Central decidiu nesta data alterar o cronograma do início do lançamento da Fase 2 do projeto", informou a autoridade monetária.
A Apple descobre o “bom e velho” crediário da Casas Bahia – e suas ações batem recorde
As ações da Apple estão sendo negociadas em valores recorde por conta de um serviço que vai permitir que os usuários possam parcelar suas compras via o Apple Pay. Os papéis sobem mais de 2% nesta manhã e seu valor de mercado se aproxima de US$ 2,5 trilhões.
Na prática, é o “bom e velho” crediário ao estilo da Casas Bahia e que é usado por todos os varejistas brasileiros. Nos Estados Unidos e outras partes do mundo, o “carnê” é chamado de “buy now, pay later” (compra agora, pague depois).
Ao fazer compras por meio de um plano Apple Pay Later, os usuários poderão escolher qualquer cartão de crédito para fazer seus pagamentos ao longo do tempo. O serviço está planejado para estar disponível para compras feitas em lojas físicas ou online.
Quase 4 milhões de clientes do Nubank não tinham conta em banco
Uma pesquisa encomendada pelo Nubank aponta que cerca de 3,8 milhões de pessoas foram inseridas no sistema bancário graças ao neobank. Na prática, esse número equivale a 11% dos 36 milhões de clientes do banco digital, quando a pesquisa foi realizada, no inicio deste ano.
A pesquisa também apontou números relacionados ao planejamento financeiros dos clientes do neobank: atualmente, 95% dos clientes têm metas financeiras; antes, esse numero era de apenas 62%. Já 67% dos clientes confirmam que ganharam mais independência financeira usando os produtos do Nubank. Conforme levantamento, 80% dos ouvidos acreditam que podem superar um desafio financeiro inesperado graças ao credito ou à conta do banco digital.
Recomendação de leitura
A recomendação desta semana é sobre algumas abordagens estratégicas para o Open Banking no Brasil, escrito pelo fundador da plataforma Trio de Open Banking as a Service, Peterson dos Santos. Da abordagem passiva à ativa, Peterson argumenta que a escolha da abordagem afetará diretamente na entrega de produtos e na organização dos times dessas empresas. Na passiva, temos a instituição preocupada somente com as obrigações regulatórias do processo de implementação — tecnologia necessária, time para implementação de normas etc. —, o que acarreta em desafios do ponto de vista de cultura, estratégia e tecnologia; na abordagem ativa, temos uma adaptação rápida de processos, bem como uma equipe dedicada a pensar em novos produtos e serviços, colocando o cliente no centro da operação.
Uma leitura interessante para quem está na linha de frente da implementação do Open Banking no Brasil — ou para entusiastas, como eu.
Boa semana e abraços,