#8: O Plano Real, a dolarização da economia e o bitcoin em El Salvador
WALTER’s FINTECHS NEWSLETTER #8: 28/06-04/07
Olá,
Na nossa #8 newsletter da Walter’s Fintechs você encontrará sobre:
Inflação;
Plano Real;
Dolarização;
Bitcoin em El Salvador;
E, claro, as principais notícias da semana que passou.
Boa leitura!
A relação do brasileiro com sua moeda já foi bastante desgastante. Desde a independência, em 1822, o Brasil já teve 9 moedas. No final do século XX, o país pagou um preço caro por sua irresponsabilidade fiscal e aventuras industriais. A inflação, à época, consumia o bolso do brasileiro.
Elias Canetti, em seu livro Massa e poder, indicou que o dinheiro é um “símbolo da massa”, do grupo ou da nação, cada um de nós se sente representado na moeda, como na bandeira e no hino; a moeda é um símbolo nacional, como se fosse um pedaço da nossa identidade. Quando essa começa a perder valor e passa a ter muitos zeros, o zero seria como a representação da depreciação, nos desvaloriza como seres humanos e ocasiona uma série de efeitos psicossociais. O autor dissertou sobre isso usando o caso da hiperinflação alemã. A imagem é de que a inflação equivale a colocar fogo na bandeira, é o dinheiro que queima, que derrete na nossa mão; é um símbolo da nossa própria identidade sendo violentada pelo Estado.
Plano Real
No decorrer da década de 1990, o Brasil venceu a batalha contra esse “monstro”. A implementação do Plano Real em 1994 foi o início de uma nova parte da história brasileira. O Real teve diversos efeitos, dentre eles estão: a redução da pobreza e a preparação para um novo nível de capitalismo que o país ainda não conhecia.
O ganho de poder aquisitivo fez com que milhões de brasileiros saíssem da extrema pobreza e fossem incluídos no mercado consumidor. Dados da época mostram que em 1993, 42% dos nordestinos estavam na extrema pobreza pelo critério das calorias diárias. Apenas 2 anos depois essa parcela caiu para 32%. Apesar de parecer pouco, milhões de brasileiros passaram a ter uma nutrição mais apropriada em um curto espaço de tempo, pelo fato de os preços pararem de subir 30%, 40% ao mês. No livro Miséria, Desigualdade e Estabilidade: O segundo real, publicado em 2006, os autores dizem que o plano de estabilização monetária permitiu uma inequívoca melhoria na renda. Após o lançamento do Plano Real, tivemos junto à redução da inflação, um ganho de bem-estar associado à menor incidência do imposto inflacionário [extremamente regressivo, é a receita gerada pelo Governo pela emissão adicional de moeda para custear seus gastos].
Apesar do expressivo ganho de bem-estar e efeitos na pobreza, não cabe dizer que o Plano Real foi uma grande política social, pois o seu objetivo primário não foi a redistribuição de renda, no entanto, sim, esse acabou gerando um efeito potencializador para a execução de políticas sociais de maneira muito melhor do que se fazia antes. A garantia da estabilidade, o amadurecimento do poder de compra nas regiões mais remotas do país e o respeito pelo dinheiro público, foram as características triunfantes para o ganho de dignidade e fortalecimento de nossa soberania enquanto país em desenvolvimento.
Quando observamos a América Latina, em geral, relatamos alguns países, como Argentina e Venezuela, vivenciando circunstâncias semelhantes - ou até piores - ao que foi visto no Brasil durante a década de 1980.
Dolarização
No final do século passado e começo do século XXI, o Equador atravessava uma crise econômica e inflacionária intensa. Em 2000, o presidente equatoriano Jamil Mahuad decretou a dolarização de seu país. A dolarização é conhecida como o processo no qual o país abdica de ter sua própria moeda para adotar o dólar. Há dois tipos de dolarização, a primeira sendo a informal, quando o país ainda tem a sua própria moeda, mas o dólar é aceito pela população como moeda nas transações comerciais interna e, a segunda sendo a oficial, o caso do Equador, onde o governo abre mão de ter sua própria moeda em favor do dólar. Por ser uma economia grande e dinâmica, a taxa de inflação anual dos EUA não passa dos 6% desde a década de 1990, assim, quando o país adota o dólar como sua moeda oficial, ele invariavelmente obterá taxas de inflação próximas da taxa americana. Outro ponto é a diminuição da desconfiança dos investidores, pois os formuladores de políticas monetárias do país teriam menores margens de manobra para cometer erros, se apoiando na política monetária americana, que possui um histórico de estabilidade e credibilidade frente aos investidores.
Bitcoin no Equador
Hoje, com o mundo financeiro se tornando cada vez mais digital e sendo guiado pela inovação, Nayib Bukele, presidente de El Salvador, se posicionou a favor da adoção do Bitcoin e anunciou que seu país irá reconhecer legalmente o uso da criptomoeda, podendo ser o primeiro país do mundo a aceitar oficialmente a criptomoeda.
Cada tempo inova a partir das ferramentas disponíveis e, claro, no ambiente propício para criação de novas ferramentas. O que vemos hoje é um movimento parecido com o que o Equador fez no início deste século, mas agora não com a dolarização de sua economia, mas sim com a “bitconização” ou “criptonização” de sua economia. O Bitcoin, e outras moedas digitais, possuem como características principais o DeFi (ou finanças descentralizadas, são aplicações baseadas em contratos inteligentes e blockchain), e o limite em sua existência, assim, não podendo ser emitido por nenhum governo e tendo um número pré-determinado de moedas existentes no mercado (no caso do Bitcoin, há 21 milhões de moedas emitidas).
Apesar de ser uma atitude ousada e inédita, há controvérsias sobre o uso do Bitcoin como moeda. De acordo com Roger Ver, do site bitcoin.com [entrevista disponível aqui] “o Bitcoin pode processar apenas cerca de três transações por segundo. Não há como uma rede que consegue lidar somente com esse volume de transações se transformar em dinheiro para o mundo inteiro."
Mesmo assim, o Bitcoin sendo considerado como potencial meio de troca para um país representa a inovação financeira em sua melhor roupagem. Se de um lado governos ao redor do mundo se preocupam com o surgimento desenfreado de novas moedas e a perda de soberania dos Bancos Centrais [tema da nossa #3 edição], em El Salvador a moeda que surgiu com o propósito de descentralizar o Sistema Financeiro já começou a dar suas caras.
Vamos para as
Principais notícias da semana
Carros da Jeep usarão dados para dar desconto em seguro veicular
A montadora Jeep vai passar a utilizar a central multimídia conectada de seus carros no Brasil para enviar dados sobre o perfil de uso do motorista a fim de oferecer preços individualizados para a contratação de seguros da startup brasileira Pier.
“O foco do nosso trabalho é sempre buscar o melhor para quem tem um Jeep (nesse caso, um Renegade). Nesse sentido, a parceria com a Pier traz benefícios significativos para os clientes que desejarem um seguro moderno e inteligente, além de estar completamente integrado com os serviços da plataforma Adventure Intelligence”, afirma Sérgio Davico, líder de serviços conectados da Stellantis, grupo ao qual pertence a Jeep.
BC quer lançar 'cartão Pix' até o fim do ano, com pagamento por aproximação
Atualmente, quem quiser fazer um pagamento pelo Pix, precisa estar conectado à internet. Mas o Banco Central (BC) está estudando o uso de um cartão físico para permitir o uso do Pix off-line, segundo o presidente da instituição, Roberto Campos Neto.
“Basicamente em algum momento vai ter um cartão Pix. Você vai aproximar do seu celular, você vai transferir dinheiro online pro offline no cartão. Vai funcionar como um cartão de ônibus, uma tecnologia supersegura. Você vai poder usar o cartão no mundo offline, quando você voltar no mundo online, vai poder transferir seu saldo de volta”, explicou o presidente, sem dar mais detalhes, em um evento on-line.
JPMorgan no C6 Bank escancara apetite por bancos digitais brasileiros
Ao comprar participação de 40% no C6 Bank, um dos principais bancos digitais brasileiros, o norte-americano JPMorgan (JPMC34) evidenciou ainda mais como o setor de fintechs local anda bastante aquecido e cada vez mais acirrado.
“A transação entre JPMorgan e C6 Bank reforça nossa visão bastante dinâmica no ambiente de bancos digitais, sobretudo no Brasil. No início de junho, foi a vez de Nubank, que já está em meio aos holofotes com seu IPO na Nasdaq (US100), receber um aporte de US$ 500 milhões da empresa de investimentos do bilionário Warren Buffett“, pontua o analista Eduardo Rosman.
Unicórnio das criptomoedas: Mercado Bitcoin capta R$ 1 bilhão com SoftBank
O Grupo 2TM, holding dona da plataforma de ativos digitais Mercado Bitcoin, anunciou ter recebido um aporte de R$ 1 bilhão (US$ 200 milhões) do SoftBank Latin America Fund. Esse aporte é a maior rodada série B e o maior investimento do SoftBank em uma empresa cripto da região, segundo comunicado da Mercado Bitcoin sobre a rodada.
A fintech foi avaliada em R$ 10,4 bilhões (US$ 2,1 bilhões) nesta rodada. O Mercado Bitcoin se tornou então “o 8º unicórnio mais valioso da América Latina”, escreve a empresa, com base em dados da plataforma Crunchbase. Unicórnios são startups avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais. Alguns outros da região são 99, Gympass, Loft, Quinto Andar e Rappi.
BTG Pactual vende fatia na Credpago e entra no captable da Loft
Na sexta-feira, dia 02, o BTG Pactual informou que vendeu a sua participação de 49% na CredPago, startup do mercado de aluguel sem fiador, para a Loft, que facilita a compra de apartamentos por meio da oferta de preços e informações seguras e verificadas, com mais de 123 mil contratos que resultam em cerca de R$ 40 bilhões em ativos sob gestão, parceria com 16 mil imobiliarias, 145 mil clientes finais e mais de 300 funcionários diretos.
O movimento ocorre após a mais recente rodada recebida em março e abril passados, quando a Loft levantou US$ 525 milhões. “A prateleira de produtos financeiros da proptech, que até aqui contava com financiamento imobiliario, agora também conta com soluções para aluguel sem fiador”, afirma o founder Mate Pencz, em comunicado.
Recomendação de leitura
Com cerca de 1,7 bilhão de adultos ainda sem contas em bancos em todo o mundo, a inclusão financeira é um tema cada vez mais importante. Com as novas iniciativas financeiras, como o Open Banking, qual é o impacto do Open Banking na inclusão financeira? Na recomendação desta semana, esse curto artigo responde algumas perguntas sobre e ainda fornece uma breve visão sobre os impactos da abertura financeira no aumento da cidadania financeira.
“From credit scoring services to more advanced saving trackers tools, from lowering tariffs on utility bills to income smoothing, Open Banking now has the opportunity to start supporting millions of people in many countries to manage their finances in a healthier way.”
Boa semana e abraços,