#50: Argentina: a história financeira de um país em crise, mas com um tratado com a inovação no setor de pagamentos
W FINTECHS NEWSLETTER #50: 11/07-17/07
Olá 👋,
Na nossa #50 newsletter da W Fintechs você encontrará sobre:
Argentina: sinônimo de prosperidade;
Os desafios econômicos da Argentina;
O ecossistema argentino de inovação financeira;
Principais notícias da semana.
👉A W Fintechs é uma newsletter focada em inovação financeira. Toda segunda-feira, às 8:21 a.m., você receberá um e-mail sobre os principais fatos e insights deste universo.
A vida é feita de escolhas. Fazemos escolhas diariamente, das mais simples às mais complexas. Em economia, um dos conceitos mais importantes que um estudante de graduação aprende é que escolher resulta em um custo de oportunidade. Abrimos mão de uma oportunidade em detrimento daquela que escolhemos. Se escolhemos “mal”, perdemos uma grande oportunidade, o que resulta em um maior custo.
Talvez, a história da Argentina seja o melhor exemplo prático de custo de oportunidade. A história financeira da Argentina prova que mesmo com uma vasta presença de recursos, uma má administração financeira pode levar tudo a perder.
Argentina: sinônimo de prosperidade
No passado, a Argentina foi sinônimo de prosperidade. O próprio nome do país significa “terra da prata”. O Rio de la Plata, onde em suas margens fica localizada a cidade de Buenos Aires, foi local de transformação e desenvolvimento para o país. Inicialmente, a região do rio era inóspita, com rebanhos de cavalos e gados, sem mão de obra local e poucas perspectivas de exploração agrícola. A colonização da costa argentina levou vários anos para ocorrer por conta da resistência das elites costeiras do Panamá e do Peru que não queriam a competição de colonos em uma região fora de seu controle.
Porém, em meados do século XVIII as técnicas de mineração ultrapassadas utilizadas pelas outras regiões colonizadas pela Espanha provocaram o declínio da produção da prata peruana. Ao mesmo tempo, com a abolição do sistema de frota anual (transporte marítimo realizado anualmente para a Espanha com ouro, prata e outros bens produzidos nas colônias espanholas), houve o fim do monopólio mercantil do Panamá e Peru. Não sendo afetada pelo declínio econômico das demais regiões, a área do Rio de la Plata continuou a prosperar e finalmente atraiu a atenção da Coroa Espanhola. Com a ameaça da invasão portuguesa no território, e para estabelecer o controle efetivo sobre a região, a Coroa Espanhola criou em 1776 uma nova unidade administrativa na América espanhola – o Vice-Reino do Rio da Prata – com sede em Buenos Aires.
Os poderes recebidos pela nova unidade administrativa foram utilizados para proteger e desenvolver o comércio, aumentar a produção agrícola por meio de inovações técnicas, construir estradas e melhorar os portos. Este período foi caracterizado pela ascensão de Buenos Aires. A cidade de Buenos Aires se tornou o coração da Coroa Espanhola, local de onde emanavam o capital e a maior parte do comércio exterior.
Este novo marco, em conjunto com a vasta dotação de recursos, levou o país a um rápido crescimento. Em 1896, o país possuía o maior PIB per capita do planeta 1. Um argentino médio era 29% mais rico que um francês médio, 14% mais rico que um alemão médio, 3 vezes mais rico que um japonês médio e 5 vezes mais rico que um brasileiro médio 2. Entre 1870 e 1913, a economia argentina cresceu mais rápido do que a dos Estados Unidos e Alemanha 3.
No entanto, o século XX não foi tão benéfico para os argentinos. A queda do mercado de ações de Wall Street em outubro de 1929 resultou em fortes quedas nos preços agrícolas e investimentos na Argentina. A Grande Depressão teve um efeito político profundo na Argentina, uma vez que com a inflação resultante e o declínio nas importações o governo não conseguiu mais ser popular diante da população e dos setores da economia.
Após a II Guerra Mundial, a situação econômica da Argentina piorou ainda mais. No período, o país teve um desempenho pior do que seus vizinhos, como o Chile, e o resto do mundo, como Cingapura, Japão, Taiwan e Coréia do Sul. A inflação e o não pagamento de suas dívidas externas são tidos como um dos maiores problemas da Argentina.
Entre 1945 e 1956; e entre 1970 e 1974, a inflação argentina estava em dois dígitos. Em 1989, enquanto o governo gastava de forma desenfreada para satisfazer as demandas econômicas de vários grupos de interesse, a inflação chegou em 5.000% ao ano. Em 1982, 1989, 2002 e 2004, o país deixou de pagar suas dívidas, o que aumentou ainda mais o receio dos investidores internacionais em investir no país.
Em The Ascent of Money: A Financial History of the World, Niall Ferguson diz que a inflação na Argentina foi tanto um fenômeno monetário quanto político, uma vez que em diversos momentos os políticos utilizaram da desvalorização da moeda para tentar reconciliar os interesses da agricultura e indústria.
Os desafios econômicos da Argentina
Os países da América Latina não fogem muito do que aconteceu — e acontece — na Argentina. Países latinos tiveram instituições instáveis ao longo da história. Buscando responder a pergunta sobre o que os países ricos fizeram para se tornarem ou continuarem ricos, os economistas Daron Acemoglu e James Robinson escreveram o livro Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty. Nele, dividiram as instituições políticas em extrativas e inclusivas.
Na primeira, criam-se estruturas que transferem riqueza e poder para as elites do país, deixando marginalizada a maior parte da população. Essas instituições podem até produzir crescimento econômico, mas esse crescimento não é sustentável, uma vez que este processo colabora para a manutenção e concentração do poder na mão de uma pequena elite. Já no segundo tipo de instituições, as instituições políticas inclusivas, há pluralismo, há o predomínio da lei, no qual as leis devem ser aplicadas igualmente para todos. Essas instituições políticas criam instituições econômicas com os incentivos certos para o investimento em capital físico, capital humano e para a inovação tecnológica que levam à prosperidade.
No livro, os autores argumentam que as estruturas políticas e econômicas criadas na Argentina ao longo da história produziram instituições extrativas, onde apenas uma elite política e empresarial dominava a política e a economia, assim como tinham seus interesses facilmente atendidos — algumas vezes ultrapassando o sistema legal.
O retrato continua o mesmo até os dias atuais. A inflação anual da Argentina está entre uma das maiores do mundo — na América do Sul, a Argentina só perde para a Venezuela.
Durante a pandemia, o governo argentino continuou controlando o sistema de preços, o que causou mais distorções no mercado. Assim como para um médico o termômetro serve para saber se um paciente está bem ou mal; para os consumidores e empresários, os preços servem como termômetros da economia. Preços transmitem sinais para os agentes econômicos. Um preço alto pode significar que um produto está sendo muito demandado, logo a indústria aumentará sua produção (o que pode impactar no endividamento da empresa, uma vez que ela buscará mais empréstimos no mercado para financiar sua expansão). Preços mais baixos podem transmitir um sinal de que o produto está tendo pouca demanda, o que faz a indústria produzir menos. Manipular preços é transmitir sinais errados para os consumidores e empresários — apesar de no curto prazo não parecer ser um problema, no médio e longo prazo resulta em distorções que podem prejudicar ainda mais a economia.
No dia 4 de julho de 2022, algumas lojas na Argentina não sabiam quanto cobrar por seus produtos. Segundo um porta-voz da Confederação Argentina da Média Empresa:
"Ninguém sabia se o dólar ia aumentar ou se ia faltar mercadoria. Na segunda (4), muitos comércios nem funcionaram porque não tinham mais um preço de referência para as vendas" Link aqui
O ecossistema argentino de inovação financeira
A inflação, as crises institucionais e a dificuldade em captar recursos internacionais corroboram para um cenário de extrema incerteza para os argentinos.
Quando comecei a estudar o ecossistema da Argentina há alguns meses — principalmente em busca de informações sobre o desempenho do país na implementação do Open Finance — fiquei surpreso com a forma como os reguladores do país estão atuando no setor de pagamentos. Inovar no setor de pagamentos não é algo trivial, uma vez que com inflação e taxas de juros mais altas, os cidadãos argentinos terão que efetuar ações de compra e recebimento mais rapidamente. E é exatamente isso que o Banco Central da República Argentina (BCRA) está promovendo no mercado argentino.
Sistema de pagamentos instantâneo
Diversos países já implementaram uma infraestrutura de pagamentos digitais e instantâneos. Na Austrália, há o NPP (New Payments Platform); em Cingapura, existe o PayNow; a Tailândia conta com o AnyID e PromptPay; a República Dominicana possui o SIPARD e o RGTS; o Reino Unido, possui o FPS; o Brasil, tem o Pix; na Índia, existe o UPI; e nos EUA, os reguladores estudam implementar o FedNow.
Os serviços de pagamentos instantâneos, quando combinados com infraestruturas interoperáveis, podem permitir o surgimento de uma variedade de serviços inovadores.
Em 2016, o BCRA havia introduzido o DEBIN, uma ferramenta de pagamento por transferência direta que também pode ser utilizada de forma eletrônica 4. O DEBIN deu às instituições financeiras e aos novos participantes do setor de meios de pagamento o direito de debitar recursos das contas bancárias de seus clientes, mediante prévia autorização.
No dia 5 de dezembro de 2020, por meio da comunicação A 7175, o BCRA lançou o Transferencia 3.0 5. O principal objetivo dos reguladores argentinos com esta nova ferramenta é promover a interoperabilidade, bem como mais competição no mercado de pagamentos e possibilitar o acesso a serviços financeiros a mais pessoas. Dados de 2018 mostram que 57% dos argentinos de baixa renda não tinham conta bancária 6. Através dos programas emergenciais implementados pelo governo, mais de 4 milhões de contas bancárias foram abertas no período — seguindo o mesmo padrão encontrado no Brasil e Colômbia.
A compreensão sobre os produtos e serviços financeiros também é baixa na Argentina. Em 2017, a pontuação de educação financeira do país estava em 11,5 e o país figurava a posição de 37° lugar, de 39 economias analisadas pela pesquisa 7. De acordo com a pesquisa, os argentinos mais pobres, que já chegam a 40% da população (2021), são os que mais possuem dificuldades em relação à educação financeira.
Desta forma, o governo lançou uma estratégia nacional para promover a inclusão financeira e educação financeira, o ENIF 2020-2023. Em paralelo, está o Transferencia 3.0.
De acordo com dados do BCRA, o país está experimentando um crescimento no número de transferências eletrônicas. A participação das transferências eletrônicas no total de operações passou de 4% em janeiro de 2016 para 23% em junho de 2021. No entanto, 8 em cada 10 transações ainda são feitas em dinheiro. De acordo com um balanço do BCRA de 23 de novembro de 2021, US$ 2,3 trilhões em dinheiro físico circulam no mercado.
Assim como no Brasil, pelo menos no início, o Transferencia 3.0 também promete transferências gratuitas e instantâneas. O pagamento via QR Code em comércios também seria uma das facilidades da ferramenta.
As principais características do novo sistema de pagamentos da Argentina são:
Ser interoperável: o Transfer 3.0 foi criado com uma arquitetura aberta que permite a interoperabilidade de todas as contas (contas bancárias e carteiras virtuais) e o novo sistema também seguirá os padrões estabelecidos pela norma ISO 20022;
Ser barato: seguindo o mesmo racional do Pix, o Transfer 3.0 acaba com os custos ocultos de manuseio de dinheiro para empresas;
Ser flexível: o Transfer 3.0 opera cartões, QR Code, DNI e biometria.
Outros sistemas de pagamentos na América Latina
Na América Latina, alguns bancos centrais já implementaram infraestruturas de pagamentos que visam uma rápida digitalização da economia.
🇲🇽 CoDi:
No México, o Banxico (banco central do México) lançou em 2019 o CoDi, antes mesmo do Pix no Brasil. O México é um país interessante em relação à inovação financeira. Tendo um comportamento de regulação financeira distinto do restante dos países latinos, em 2018 o México aprovou a Lei Fintech, uma lei abrangente que regula o setor. A principal razão para usar essa abordagem regulatória está relacionada à sua tradição de direito civil, que restringe os reguladores de regular em áreas e com ferramentas que não são explicitamente identificadas na legislação que confere seu mandato. Diante disso, a promulgação de uma lei única permitiu um amplo mandato para seus reguladores do setor financeiro em áreas específicas e permitiu o uso de ferramentas como facilitadores de inovação.
Isso trouxe um certo pioneirismo ao país. Na América Latina, o México foi o primeiro a implementar uma estrutura regulatória de compartilhamento de dados. Mas por ter implementado ao mesmo tempo que UK, não conseguiu ganhar a velocidade e os aprendizados que o Brasil conseguiu, por exemplo.
No sistema de pagamentos instantâneos, o país tem o CoDi, uma plataforma de pagamentos digitais com processamento efetuado através do Sistema de Pagamento Eletrônico Interbancário (SPEI).
O CoDi introduziu ao SPEI a possibilidade de fazer pagamentos por QR Code, tecnologia NFC, assim como links de pagamentos.
No entanto, devido a limitações de transferência e desafios de UX, a plataforma não atraiu tanta atenção.
🇧🇷 Pix:
No Brasil, as discussões para a implementação de um novo sistema de pagamento, interoperável e instantâneo, começaram em 2019, quando o Banco Central reuniu bancos e fintechs para estudar formas de implementar uma nova plataforma de pagamentos. O pluralismo no desenvolvimento do Pix foi um dos fatores que impulsionou seu sucesso. O Pix já é o principal meio de pagamento do Brasil. A plataforma também colocou o Brasil em 4º lugar no ranking de pagamentos em tempo real. Durante o ano de 2021, o Brasil registrou 8,7 bilhões de transações via Pix — ficando atrás apenas da Tailândia (9,7 bi), China (18,5 bi) e Índia (48,6 bi) 8.
O Pix também foi fonte de inclusão financeira. Em relação ao uso por faixa de renda, o novo meio de pagamento cresceu mais entre consumidores de baixa renda. De março a outubro de 2021, o número de usuários de baixa renda aumentou 131%.
A rápida adoção do Pix se deve tanto a sua usabilidade mais simples quanto à participação obrigatória dos grandes bancos, que resultou em um efeito rede logo no começo e fez com que o Pix ganhasse mais força entre a população.
No Transfer 3.0, o BCRA também tornou a integração à nova plataforma de pagamentos obrigatória para todas as empresas que fazem parte do Sistema Nacional de Pagamentos.
Open Finance
Resumidamente, o que faz o Open Finance funcionar são as APIs. As APIs são as chaves que abrem as portas para o mundo do Open Finance. A implementação do Open Finance pode ocorrer de duas formas: market-driven e government-driven.
Na primeira situação, o próprio setor financeiro se organiza para criar uma API que permita o compartilhamento dos dados financeiros de seus clientes com outras instituições financeiras. Conforme as plataformas de gestão financeira foram surgindo, alguns países passaram a adotar esta abordagem, como os EUA e Cingapura.
Mas há alguns problemas em abordagens desse tipo: (i) algumas vezes não há um modelo de responsabilidade bem definido, o que pode levar algumas instituições a utilizarem estes dados de forma indevida e não serem punidas; (ii) algumas vezes também não há uma regulação específica de direito e proteção de dados pessoais (como a LGPD, no Brasil, e GDPR, na Europa) que garanta que aqueles dados compartilhados são do cliente e devem ter seu consentimento explícito para o compartilhamento.
Países que adotam estruturas reguladas de compartilhamento de dados muitas vezes possuem, ou implementam, estes requisitos.
A Argentina não possui uma estrutura regulada de Open Finance, mas há requisitos previstos na Lei nº 25.326 de Dados Pessoais que permite com que bancos compartilhem informações pessoais de seus clientes com seu consentimento prévio, o que habilitou o setor privado a criar iniciativas próprias.
O BIND (Banco Industrial), por exemplo, foi uma das instituições pioneiras no lançamento de APIs abertas. Ao lado da empresa de tecnologia Poincenot Technology Studio, o banco lançou a APIBANK que oferece aos seus clientes empresariais a possibilidade de acessar dados financeiros de forma ágil.
A iniciativa já mostra sinais que um ecossistema regulado de Open Finance poderá ter bons resultados. De acordo com dados do próprio site da iniciativa, mais de 150 clientes já se conectaram às APIs abertas, sendo eles o Mercado Pago, Ualá, Ripio, entre outros; e há 12 milhões de transações por mês 9.
Os desafios econômicos que o país vive atualmente certamente impactam qualquer implementação que exija uma grande mobilização de capital, tempo e dos próprios players do setor financeiro. Mesmo assim, o BCRA atua de maneira favorável na criação de um ecossistema interoperável. Em maio deste ano, o BCRA emitiu a comunicação A7514 que descreveu medidas para melhorar a operação do sistema de pagamento eletrônico, enfatizando que as carteiras digitais poderão ampliar o escopo de seus serviços ao permitir que os clientes registrem contas fornecidas por outras entidades financeiras ou prestadores de serviços de pagamento (PSP).
É uma movimentação interessante do regulador em direção a um ecossistema de Open Finance. O país está buscando tornar seu sistema de pagamentos mais eficiente e interoperável, e isso certamente impactará na velocidade de implementação de uma estrutura regulada de Open Finance, no futuro.
Ecossistema fintech
De acordo com dados da Finnovista, a América Latina e o Caribe passou de 1.166 fintechs para 2.482 em pouco mais de três anos 10. O ecossistema da Argentina é o quarto maior. O segmento mais relevante no país é o de pagamentos digitais, seguido de empréstimos e gestão financeiro 11.
Durante a pandemia, o setor atraiu diversos investimentos internacionais. A Ualá captou em dezembro de 2020 mais de US$ 190 milhões; o Brubank, um banco digital concorrente, acumulou US$ 12,8 milhões em investimentos; e o Moni, um provedor de serviços de microfinanças online, levantou US$ 5,5 milhões.
Segundo a Câmara Argentina de Fintech, as fintechs argentinas haviam recebido US$ 900 milhões até setembro de 2021 — número impulsionado pelos unicórnios do setor 12. A Câmara Fintech Argentina projetou que até o final de 2022, o número de contas virtuais de pagamento chegará a 40 milhões — no final de 2021, o número foi de 20 milhões.
A Argentina também vive um momento de transformação regulatória. À medida que novos modelos de negócios são criados, os reguladores de vários países implementam regulações para reduzir os impactos negativos que estes novos modelos de negócios podem apresentar. Uma regulação favorável, que não crie barreiras de entrada e proteja players já estabelecidos no mercado, pode resultar em ganhos de eficiência para o setor como um todo, bem como promover ainda mais a competição e inovação.
O BCRA está empenhado em entender estes novos modelos. O país não adotou a mesma abordagem regulatória do México, ou seja, há regulamentos dispersos em vigor em relação a determinadas atividades e/ou players de fintechs.
Em contas digitais, os provedores de serviços de pagamento que oferecem contas de pagamentos foram regulamentados pelas comunicações A6859 e A6885. Em crowdfunding, há outros tipos de reguladores, como a Comisión Nacional de Valores (CNV) e Unidad de Información Financiera (UIF). Desde 2017 o país possui um regulamento sobre crowdfunding, mas em fevereiro de 2022, a CNV submeteu à consulta pública um projeto de reforma do atual regulamento de crowdfunding que propõe, entre outras modificações: (i) uma maior flexibilização dos requisitos que os projetos de investimento devem cumprir; e (ii) um aumento de oito vezes do valor mínimo de emissão.
A BCRA criou um grupo de trabalho, com membros do setor privado e público, com reuniões regulares sobre:
Infraestrutura e meios de pagamento;
Fontes alternativas de crédito e poupança;
Soluções fornecidas através da tecnologia blockchain.
Além disso, o BCRA criou o Programa de Inovação Financeira 13, que convida empresários, estudantes e profissionais de várias áreas financeiras para gerar projetos que solucionem problemas financeiros do dia a dia do argentino.
Conclusão
A história financeira da Argentina nos ensina que mesmo com uma vasta presença de recursos, uma má administração financeira pode levar tudo a perder. A Argentina já foi um dos países mais ricos do mundo, e o mais rico da América do Sul. Em 1896, o país possuía o maior PIB per capita do planeta. Mas os privilégios concedidos a grupos de interesses específicos ao longo de sua história, fizeram com que o país criasse estruturas políticas e econômicas que resultaram em concentração de poder e riqueza a uma pequena elite.
O país vive atualmente uma grave crise econômica. No dia 14 de julho de 2022, milhares de argentinos foram às ruas exigindo ajuda financeira. A pobreza no país já chega a 40% da população, e algumas lojas pararam de funcionar por conta de não terem mais um preço de referência para precificar os seus produtos. A alta da inflação e taxa de juros são os desafios atuais da economia argentina.
Em paralelo, os reguladores financeiros estudam maneiras de tornar o sistema de pagamentos interoperável e eficiente. O BCRA lançou em 2021 o Transferencia 3.0, uma espécie de Pix que promete promover inclusão financeira e competição no setor financeiro. Além disso, o BCRA vem promovendo diversas iniciativas que visam uma maior inclusão financeira e inovação no setor.
Apesar de não ter uma estrutura regulada de Open Finance, por meio da Lei de Proteção de Dados Pessoais da Argentina alguns bancos locais se organizaram para fornecer APIs abertas para seus clientes empresariais. A iniciativa APIBANK, criada pelo BIND e Poincenot, já demonstra o sucesso potencial de uma estrutura regulatória de Open Finance, tendo mais de 150 clientes conectados às APIs abertas e 12 milhões de transações por mês.
Apesar dos desafios econômicos e políticos que o país enfrenta atualmente, os reguladores e a indústria financeira trabalham juntos para preparar o terreno para tempos melhores. Certamente um sistema financeiro inovador, inclusivo, eficiente e interoperável ajudará o país a se preparar para tempos mais prósperos.
Principais notícias da semana 📰
CapTable entra em negociação subsequente de investimento em startups👈
No último dia 1º, entrou em vigor a nova regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para o crowdfunding de investimento. Entre outras mudanças, a Resolução CVM 88 possibilita que as plataformas possam atuar como intermediadores de transações subsequentes, o que na prática cria uma espécie de “mercado secundário” para a modalidade, embora as empresas não possam constituir tampouco administrar mercados organizados de valores mobiliários.
A criação de um ambiente de negociação subsequente das cotas de participação em startups busca resolver uma grande dor do mercado de crowdfunding: a liquidez. “As transações subsequentes já ocorriam, mas nós, como plataformas, não podíamos intermediá-las. Aí, os investidores acabavam entrando em contato entre si, o que gerava uma grande assimetria de informações”, explica Guilherme Enck, cofundador da CapTable, ao Finsiders.
No modelo de marketplace, o novo ambiente é intermediado pela CapTable, que fica responsável pela transferência dos títulos entre os investidores, mas não pode fazer o “matchmaking”. Ou seja, os investidores precisam selecionar em um painel o ativo que desejam comprar ou vender para que a operação de negociação ocorra.
Barte quer melhorar fluxo de caixa e liquidez das PMEs — e atraiu o GFC👈
Fluxo de caixa e liquidez estão entre os principais desafios enfrentados pelas pequenas e médias empresas (PMEs). Recém-lançada, a Barte se propõe a resolver esses problemas com uma plataforma B2B que combina pagamentos e acesso a capital, com foco no contas a receber dos negócios.
Hoje com uma lista de espera para controlar a demanda, a Barte já tem mais de 2 mil empresas transacionando na plataforma, com expectativa de aumentar em 15x esse número no próximo ano. Na base estão, principalmente, micro e pequenos negócios de prestação de serviços, como escritórios de contabilidade, consultorias, pequenas firmas de advocacia, entre outros perfis.
As primeiras operações de antecipação de recebíveis estão sendo realizadas com recursos próprios, e naturalmente o caminho passa por montar veículos específicos de funding, dizem os empreendedores. “Queremos validar o produto antes de efetivamente montar a estrutura”, afirma Caetano.
PSD3 Set to Mandate API Standardization👈
Last month, the European Banking Authority (EBA) published a response to the European Commission’s call for advice on the upcoming review of the revised Payment Services Directive (PSD2).
The 490 items contained within the document include several proposals that attend to the issue of application programming interface (API) fragmentation.
According to the EBA, “The experience acquired in the implementation of the PSD2 has shown that the absence of a single API standard has led to the emergence of different API solutions across the EU.”
The report further noted: “This creates significant challenges for TPPs [third-party service providers] as they have to invest significant efforts into connecting to different ASPSPs’ [Account Servicing Payment Service Providers’] APIs and adapting their connections to changes of APIs across time.”
That the EBA is requesting a legal mandate for common API standards is hardly surprising. If PSD3 is to hail the long-awaited dawn of open finance, such a mandate is badly needed.
But Boudewijn raised another issue that illuminates a shift in banks’ attitudes between 2013 and the present. As he observed, because PSD2 requires banks to provide third parties access to account data for free, there was initially no incentive for them to build good APIs.
Saúde e paz,
Walter Pereira
https://www.rug.nl/ggdc/html_publications/memorandum/gd174.pdf
https://www.infomoney.com.br/colunistas/felippe-hermes/de-sexta-maior-economia-do-planeta-ao-decimo-calote-as-licoes-da-argentina/
The Ascent of Money: A Financial History of the World
https://www.bcra.gob.ar/MediosPago/Politica_Pagos-i.asp
https://www.ibanet.org/argentina-real-time-payment-transferencias
https://cashessentials.org/52-of-argentinians-are-unbanked/
https://www.caf.com/pt/presente/noticias/2018/10/pesquisa-deixa-em-evidencia-os-desafios-da-argentina-em-termos-de-educacao-financeira/
https://www.aciworldwide.com/real-time-payments-report
https://apibank.bind.com.ar/
https://publications.iadb.org/publications/portuguese/document/Fintech-en-America-Latin-un-ecosistema-consolidado-para-la-recuperacion.pdf
https://camarafintech.org/boom-fintech-las-empresas-argentinas-recibieron-inversiones-por-usd-900-millones-y-proyectan-llegar-a-40-millones-de-cuentas-en-2022/
https://www.antit.io/blog/argentina-an-emerging-market-in-the-fintech-world-of-latin-america
http://www.bcra.gov.ar/SistemasFinancierosYdePagos/Innovacion_financiera-i.asp#