#FinOpen: O paradoxo do Open Finance: PJ lidera os balanços bancários, mas ainda é pouco explorado. Quem se destaca?; Casos de uso
W FINTECHS NEWSLETTER #134
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Estou avaliando se os updates dos grupos de trabalho estão sendo realmente úteis para vocês. Caso queiram que eu continue com essa seção — ou tenham sugestões de como ela pode ser melhorada — fiquem à vontade para me escrever no LinkedIn ou respondendo a este e-mail.
Na primeira edição do FinOpen, escrevi que o Open Finance é uma autêntica selva cooperativa, onde cada player depende do esforço do outro para continuar existindo. Esse equilíbrio dinâmico já ganhou um nome na literatura: coopetição — a fusão entre cooperação e competição.
Cada instituição direciona seus esforços para consolidar sua própria estratégia dentro do Open Finance. No entanto, é o trabalho coletivo que realmente impulsiona a evolução do ecossistema. Parece um conto de fadas, mas, felizmente, é a mais pura verdade. Ainda assim, a competição segue intensa, e muitos players têm explorado, dentro das regras do jogo, as ferramentas disponíveis (os dados) para se destacar no mercado.
O Open Finance está redefinindo como as instituições lidam com as informações dos clientes. Fintechs como Nubank e Mercado Pago avançam no PF, enquanto bancos tradicionais traçam estratégias próprias — alguns intensificando iniciativas no Open Finance, outros desenvolvendo ecossistemas, especialmente para PJ.
Alguns bancos têm firmado parcerias estratégicas com empresas de tecnologia para consolidar sua posição — como a do Itaú com a Omie, que lançaram o “Itaú Meu Negócio Gestão by Omie”, oferecendo soluções integradas para PMEs. No contexto do Open Finance, a relação entre empresas e instituições financeiras apresenta desafios específicos: enquanto os consumidores podem migrar entre bancos e fintechs com relativa facilidade, para as empresas a transição envolve a adaptação de toda a infraestrutura financeira, o que pode gerar um efeito de retenção maior no relacionamento bancário — pelo menos por enquanto.
O Mercado Pago, para tentar atrair mais clientes no segmento PJ, tem oferecido diferentes serviços, como antecipação de recebíveis e crédito, integrando esses produtos ao seu ecossistema.
No lado das cooperativas, o Sicredi, por exemplo, tem utilizado dados do Open Finance para revisar limites e conceder crédito de forma mais personalizada. A instituição já concedeu mais de R$ 507 milhões em crédito e aumentou R$ 184,9 milhões em limites de cartões a partir do compartilhamento de dados 1, mostrando que o Open Finance pode gerar benefícios econômicos diretos aos associados — em 2024, o Sicredi alcançou R$ 25,5 bilhões em benefícios gerados para seus 8,5 milhões de cooperados 2.
Já do lado dos grandes bancos, um que mais se destacou desde o início do Open Finance no Brasil foi o Banco do Brasil. No segmento PJ, registrou um crescimento de 18% na carteira de crédito em 2024, alcançando R$ 472 bilhões 3. Desde 2023, a instituição vem estruturando um hub empresarial com gestão centralizada de recebíveis e automação na análise de capital de giro.
A grande inovação foi o Painel PJ, que integra dados de diversas instituições e utiliza IA generativa para emitir alertas e sugestões. A plataforma já atende um mercado potencial de 2,8 milhões de empresas.
O interessante de observar aqui é o contraste na velocidade de adoção do Open Finance. No segmento de pessoa física, já são mais de 40 milhões de consentimentos únicos. No mundo PJ, por outro lado, apenas 1,5% das empresas brasileiras compartilharam dados — um número que escancara o quanto ainda há para destravar nesse território. Parte disso se explica pela dificuldade de extrair valor imediato das soluções existentes e pela falta de familiaridade prática das empresas com o que o Open Finance pode, de fato, resolver. Talvez estejamos diante de um clássico dilema do ovo e da galinha: as empresas ainda não usam porque não enxergam valor prático, e não enxergam valor prático porque os próprios players ainda estão construindo os produtos e casos de uso que poderiam provar esse valor.
Os bancos tradicionais, que historicamente detinham o controle dos dados financeiros de seus clientes, estão tendo que rever suas estratégias para se manterem competitivos nesse novo cenário. Essa configuração estratégica dos bancos tradicionais fica evidente no gráfico abaixo com dados de 14 de fevereiro de 2025. Enquanto o Santander e o Mercado Pago lideram em recepção de consentimentos PJ, instituições como Banco do Brasil e Itaú ainda operam com volume relativamente modesto tanto na recepção quanto na transmissão. Embora esses bancos tenham uma carteira de crédito relevante em PJ — R$ 461,1 bilhões no Banco do Brasil e R$ 662,2 bilhões no Itaú Unibanco em dezembro de 2024 —, sua atuação no Open Finance PJ ainda está em fase de maturação.
Essa defasagem na adoção plena do Open Finance, porém, não significa ausência de movimento. Nesse contexto, a competitividade vai além da coleta de dados. Algumas instituições investem em modelos dinâmicos de crédito, plataformas integradas de gestão financeira e fluxos mais fluídos de pagamentos, o que mostra que a disputa por relevância no segmento PJ está apenas começando.
Nesta fase inicial do Open Finance PJ, os casos de uso que tenho observado mostram que o movimento tem sido menos sobre lançar algo totalmente novo e mais sobre fazer funcionar o que já está disponível. Bancos, fintechs e plataformas estão focados em conectar sistemas, redesenhar rotinas e remover atritos operacionais.
É um trabalho menos visível, mas essencial para que o Open Finance passe a fazer parte do dia a dia das empresas. A mudança vem na forma como essas peças são encaixadas para dar conta de tarefas antigas, com menos esforço e em menor tempo.
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Contribuição
Estou criando um mapeamento de casos de uso em dados e pagamentos, com um dashboard interativo. Antes do lançamento oficial, previsto para o fim de março, quero enriquecer ainda mais esse mapeamento.
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Muitos casos de uso para o público PJ estão concentrados em dois eixos principais: a agregação de informações de contas bancárias distintas e o aumento da fluidez operacional. Entre os benefícios mais explorados pelos players está a automação de processos financeiros. Um exemplo prático disso é o Cash Pooling da Accesstage, que permite a centralização automática dos saldos bancários de diferentes contas de uma mesma empresa.
Com autorização do Banco Central para atuar como Iniciador de Transação de Pagamentos (ITP) desde novembro de 2024, a solução se conecta a múltiplos bancos para realizar transferências de forma programada, com base em parâmetros definidos previamente pelo usuário.
O fluxo começa quando o usuário define quais contas serão monitoradas e qual será a conta centralizadora. A partir disso, a plataforma realiza a raspagem dos saldos disponíveis nas contas satélites e direciona os valores para a conta principal. A operação ocorre de forma automática e periódica, utilizando a infraestrutura do Open Finance e do Pix para viabilizar a movimentação. O sistema considera as regras e limites configurados, o que permite uma melhor gestão dos recursos financeiros distribuídos em múltiplos bancos.
Essa automação substitui processos que antes demandavam tempo e interação manual com diferentes sistemas bancários — diminuindo de cerca de 3 horas diárias para aproximadamente 5 minutos o tempo necessário para consolidar saldos e movimentar recursos. Com a consolidação dos saldos, as empresas passam a ter uma melhor visão do caixa da empresa e podem tomar decisões baseadas em dados em tempo real, e diminuindo a exposição a falhas operacionais comuns em rotinas manuais de tesouraria.
Mais integrações, mais dados
Na edição #126, fiz um deep dive sobre como, em um mercado cada vez mais integrado — e com volumes crescentes de dados — os workflows vêm ganhando ainda mais relevância. Está surgindo uma nova geração de empresas focadas em decision engines e automação, inspiradas no sucesso do Zapier. Confira a edição completa abaixo 👇
Report Open Finance 2024
A Lets Media lançou um report bem completo sobre o Open Finance no Brasil, explorando o cenário além do banking e trazendo diversos casos de uso. Confira clicando👉
aqui.
Saúde e paz,
Walter Pereira
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Disclaimer: As opiniões expressas aqui são de total responsabilidade do autor, Walter Pereira, e não refletem necessariamente as opiniões dos patrocinadores, parceiros ou clientes da W Fintechs.
https://www.sicredi.com.br/site/blog/open-finance/open-finance-revolucao-financeira/
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https://ri.bb.com.br/servicos-para-investidores/downloads/