#62: A evolução até a economia de dados e o surgimento do mercado de privacidade
W FINTECHS NEWSLETTER #62: 16/01-22/01
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📝Key Takeaways:
O PIB global saiu de US$ 1 trilhão para mais de US$ 90 trilhões em 70 anos, os avanços da tecnologia explicam parte desta expansão.
O surgimento da indústria de Venture Capital, em 1950, cruza-se com o surgimento da indústria de hardware. Venture Capital e tecnologia sempre andaram juntos e foi graças a estes capitalistas de risco que hoje temos boa parte das tecnologias que usamos.
À medida que a capacidade dos hardwares aumentou, ocorreu o surgimento da indústria de software, em 1960-1970. Esta indústria criou aplicações que aumentaram a quantidade de dados disponíveis. Com o aumento da capacidade de armazenamento e processamento dos computadores, nasceu a economia de dados, em 1990.
A economia de dados criou um mercado gigante, que pode contribuir com até US$ 11,1 trilhões para o PIB global até 2025.
As preocupações com privacidade e segurança de dados pavimentou o surgimento das leis de proteção de dados, como a GDPR, na Europa, e a LGPD, no Brasil. Até 2024, 75% da população global terá seus dados pessoais cobertos pelas regulamentações de privacidade. Essa preocupação, alinhada com o surgimento das leis, criou o mercado de PrivacyTech, que já captou mais de US$ 10 bilhões e ainda é uma indústria emergente com grandes potenciais.
A economia de dados está só no seu começo e à medida que mais dados forem criados e compartilhados, através de infraestruturas como o Open Finance, espera-se que isso resulte em eficiência econômica.
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A economia global está em grande expansão. Nos últimos 70 anos, o Gross Domestic Product (GDP) global saiu de US$ 1 trilhão em 1950 para mais de US$ 90 trilhões em 2020. Essa expansão deve-se a diversos fatores, como a globalização, as políticas econômicas favoráveis e os avanços da tecnologia e seus financiadores.
O surgimento da indústria de hardware, por exemplo, tem uma relação direta com o surgimento e desenvolvimento da indústria de Venture Capital. No fim dos anos de 1950, quando os Oito traidores, como ficaram conhecidos, saíram da Shockley Semiconductor Laboratory para fundar uma empresa concorrente, o momento marcou a história da tecnologia e do mercado de investimentos de alto risco. Os oito jovens estavam com dificuldade de arrecadar capital para a sua nova empresa, uma vez que estavam localizados no Texas, região que não possuía tanta influência bancária, e também eram jovens com pouco histórico profissional, apesar de um admirável currículo acadêmico.
Eles tinham uma boa ideia e as competências técnicas necessárias para liderar esta nova empresa, mas faltava capital. Até que conheceram Arthur Rock e Bud Coyle, dois banqueiros experientes de Boston. Rock e Coyle ajudaram a tirar a ideia do papel e fundar a Fairchild Semiconductor. A Fairchil revolucionou toda uma indústria, levando à adoção generalizada de materiais de silício em vez de germânico; ajudou a colocar a tecnologia MOSFET (o tipo mais comum de transístores de efeito de campo em circuitos tanto digitais quanto analógicos) no centro das atenções; e criou o resistor transistor lógico IC, que ajudou a alimentar o Programa Espacial Apollo.
No livro The Power Law: Venture Capital and the making of the New Future, o jornalista Sebastian Mallaby escreveu que o episódio foi tão importante que contribuiu diretamente para o florescimento da indústria de Venture Capital e para o surgimento de boa parte das tecnologias posteriores.
As indústrias do hardware e software
Gordon Moore, um dos oito fundadores da Fairchild e cofundador da Intel, escreveu certa vez que o número de transistores em circuitos integrados dobraria aproximadamente a cada dois anos.
Moore escreveu que “não há razão para acreditar que não permanecerá quase constante por pelo menos 10 anos”. Ele não estava apenas certo sobre os 10 anos, como a constância se manteve por mais de meio século.
Além da duplicação de transistores — que foi importante, uma vez que as capacidades de muitos dispositivos eletrônicos que usamos hoje estão fortemente ligadas ao número de transistores —, a capacidade computacional dos computadores também aumentou exponencialmente. De acordo com dados da Our World in Data 1, o tempo de duplicação da capacidade computacional para computadores pessoais foi de 1,5 anos entre 1975 e 2009. O custo para manter uma máquina funcionando também mudou. Um estudo do publicado no MIT Technology Review 2 mostrou que nas últimas seis décadas, a demanda de energia para uma carga computacional fixa caiu pela metade a cada 18 meses. Essa melhoria na eficiência foi importante para a redução dos impactos ambientais negativos, bem como para os ganhos de produtividade em geral.
Ao mesmo tempo que a indústria de hardware evoluiu rapidamente, a indústria de software também cresceu e chamou a atenção dos investidores. A indústria de Venture Capital também teve uma contribuição direta com o desenvolvimento do mercado de software. No livro de Mallaby, o autor mostrou que foi por conta dos riscos assumidos pelos capitalistas de risco que o Vale do Silício se desenvolveu. Isso ajudou com que os EUA ganhassem uma posição de liderança na inovação tecnológica. De acordo com o Índice Global de Competitividade de 2018 3 do Fórum Econômico Mundial, esta liderança deve-se ao seu dinamismo empresarial, fortes pilares institucionais, mecanismos de financiamento e seu vibrante ecossistema de inovação. O desenvolvimento da indústria de software, por exemplo, adicionou diretamente US$ 475,3 bilhões à economia dos Estados Unidos em 2014 4 e considerando seu efeito total, esta indústria foi responsável por um total de US$ 1,07 trilhão de todo o GDP de valor agregado dos EUA em 2014.
Quando olhamos em retrospecto, o GDP global também cresceu desde o surgimento da indústria de hardware e software — que geraram empregos, novas tecnologias e aumento da produtividade 5. Na época do surgimento da indústria de hardware, em 1950, o GDP global era de cerca de US$ 1 trilhão. A indústria de software surgiu durante a transição das décadas de 1960 e 1970, com o desenvolvimento de sistemas operacionais e aplicativos para computadores. Na época, o GDP global era de cerca de US$ 2 trilhões.
A economia de dados
A partir do momento que os computadores começaram a ter mais capacidade de armazenamento e processamento de dados, ocorreu o surgimento da economia de dados, na década de 1990, quando o GDP global era de US$ 20 trilhões. Desde então, a economia global teve um salto de US$ 20 trilhões, em 1990, para US$ 90 trilhões, em 2020. E à medida que os dados ganham cada vez mais relevância para o estabelecimento das empresas de tecnologia — sendo considerado pela revista britânica The Economist o novo petróleo —, as estimativas apontam que a economia de dados contribuirá ainda mais para o aumento do GDP global. Um estudo realizado pela McKinsey Global Institute 6 em 2018 estimou que a economia global de dados poderia gerar valor econômico de até US$ 3 trilhões por ano até 2025. Isso poderia ser alcançado por conta de melhorias na eficiência, inovação e criação de novos mercados e negócios. Outro estudo, realizado pelo Fórum Econômico Mundial em 2016, previu que a economia global de dados poderia contribuir com até US$ 11,1 trilhões para o PIB global até 2025 7.
A economia de dados tem criado um mercado gigante. Podemos dividir a economia de dados em alguns sub-segmentos, como:
Coleta de dados: empresas que fazem o processo de reunir e recolher dados de diferentes fontes, como sensores, aplicativos, redes sociais, entre outros.
Armazenamento de dados: empresas que fazem o armazenamento dos dados e garante sua disponibilidade para uso futuro.
Processamento de dados: empresas que fazem processo de limpeza, organização e transformação dos dados coletados, para que possam ser utilizadas para análise.
Análise de dados: empresas que fazem o processo de análise para extrair insights e informações. Isso pode incluir técnicas como mineração de dados, machine learning e inteligência artificial.
Monetização de dados: empresas que geram receita a partir dos dados coletados, armazenados, processados e analisados. Isso pode incluir a venda de dados para terceiros, o uso de dados para aumentar a eficiência e a rentabilidade, entre outras possibilidades.
Proteção de dados: empresas que fazem o processo que garante que os dados estejam seguros e protegidos contra o acesso não autorizado, uso indevido, perda ou roubo. Isso inclui medidas como criptografia, controles de acesso, monitoramento de segurança e conformidade com regulamentos de privacidade de dados.
Segurança de dados: empresas que fazem o processo de proteção dos dados de ameaças internas e externas, tais como vírus, malwares, ataques cibernéticos, entre outros. Essas medidas incluem firewalls, detecção de intrusão, gerenciamento de acesso, auditor de ataques e análise de segurança de dados.
PrivacyTechs: um mercado em expansão
Com o uso cada vez maior dos dados, proporcionado pelos avanços da economia de dados, o valor que eles representam hoje para as empresas resultou em um novo debate: quem é o dono dos dados, as empresas ou o consumidor? Esse debate pavimentou o surgimento não só de novas regulações que garantem a proteção dos dados pessoais dos consumidores, mas também criou infraestruturas de compartilhamento de dados com a necessidade do consentimento prévio, como o Open Finance.
A discussão tomou proporções maiores após o caso da Cambridge Analytica, empresa de consultoria política que usou dados de redes sociais para influenciar a opinião pública e ajudar na campanha eleitoral de candidatos políticos. Em março de 2018, foi revelado que a Cambridge Analytica havia coletado dados de milhões de usuários do Facebook sem o seu conhecimento ou consentimento, usando-os para criar perfis psicológicos e segmentar anúncios políticos. Isso resultou em uma preocupação generalizada com a privacidade e a segurança de dados, e levou a criação de regulamentações mais rigorosas abordando como as empresas coletam, armazenam e usam os dados pessoais, a GDPR (General Data Protection Regulation). A GDPR é uma regulamentação da União Europeia que foi adotada em maio de 2018 com o objetivo de proteger a privacidade dos cidadãos da União Europeia e regular como as empresas lidam com os dados pessoais. Ela dá aos indivíduos o controle sobre seus dados pessoais e impõe multas pesadas às empresas que violam as suas regras — desde 2018, as empresas sob jurisdição da União Europeia pagaram cerca de US$ 300 milhões em multas por violação das políticas de proteção de dados 8.
Entenda mais assistindo:
Privacidade Hackeada, documentário que explica como a empresa Cambridge Analytica se tornou o símbolo do lado sombrio das redes sociais, após a eleição para presidência de 2016 nos EUA. (Disponível no Netflix)
Após o surgimento da GDPR na Europa, diversos países passaram a implementar ou aprimorar suas leis de proteção de dados. A Gartner prevê que até 2024, 75% da população global terá seus dados pessoais cobertos pelas regulamentações de privacidade 9 .
Existem vários países que têm leis de proteção de dados semelhantes à GDPR. Alguns exemplos estão disponíveis no infográfico abaixo:
Diferenças entre as leis
As leis de proteção de dados variam entre países, onde algumas de suas principais diferenças incluem:
Enfoque: enquanto algumas leis se concentram mais em proteger a privacidade dos indivíduos, outras se concentram mais em garantir a segurança dos dados.
Alcance: algumas leis se aplicam apenas a empresas ou organizações dentro de um determinado país, enquanto outras se aplicam a empresas ou organizações que operam globalmente.
Penalidades: algumas leis preveem penalidades mais severas para violações, enquanto outras preveem penalidades menos severas.
Exceções: algumas leis possuem exceções para situações específicas, como investigações criminais ou situações de emergência.
Por exemplo, a GDPR tem alguns aspectos únicos, como o direito à portabilidade de dados, que não está presente em todas as outras leis de proteção de dados. A LGPD também tem algumas características diferenciadas como a extensão de sua aplicabilidade para empresas estrangeiras que realizem operações no território brasileiro e a criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).
A CCPA (Califórnia), por exemplo, aplica-se apenas às empresas que operam na Califórnia, EUA. Ela prevê multas menores para violações, mas ainda assim pode ser significativa. Além disso, a CCPA dá aos residentes da Califórnia direitos semelhantes aos da GDPR, como o direito de saber quais dados pessoais estão sendo coletados e o direito de solicitar a exclusão de dados.
A Privacy Act da Austrália se aplica apenas a empresas e organizações do país. Ela tem penalidades menos severas do que a GDPR ou a LGPD, mas ainda assim pode incluir multas e outras sanções administrativas. Ele também dá aos indivíduos direitos semelhantes aos da GDPR, como o direito de saber quais dados pessoais estão sendo coletados e o direito de solicitar a correção de dados incorretos.
Resumidamente, existem muitas leis de proteção de dados ao redor do mundo, como a GDPR na União Europeia, a LGPD no Brasil, a CCPA nos EUA e o Privacy Act na Austrália. E suas principais diferenças podem ser o enfoque, alcance, penalidades e exceções. A GDPR é uma das mais rigorosas, enquanto outras leis podem ter penalidades menos severas.
Oportunidades geradas pela criação da lei
Desde a promulgação destas leis, um novo mercado vem se expandindo, os das PrivacyTechs. As PrivacyTechs surgiram em resposta à crescente preocupação com a privacidade dos indivíduos e a proteção de dados pessoais. Com o aumento da quantidade de dados gerados e coletados, bem como a utilização cada vez maior de tecnologias de análise de dados, as preocupações com a privacidade dos indivíduos se tornaram cada vez mais urgentes. Elas se concentram em desenvolver tecnologias e soluções para garantir a privacidade e segurança dos dados pessoais. Este mercado vem crescendo desde 2018. Segundo a Crunchbase, o setor acumulou quase US$ 10 bilhões em investimentos em 2019, em comparação com apenas US$ 1,7 bilhão em 2010 10. Geralmente as PrivacyTechs oferecem ferramentas de anonimização, criptografia, controle de acesso, gestão de consentimento e compliance.
Na América Latina, as PrivacyTechs também estão emergindo diante da promulgação de novas leis de proteção de dados. Empresas como Adopt, Boyce Data, Privacytools, entre outras estão aproveitando as oportunidades criadas pelas leis da região para expandir seus negócios.
Conclusão
Do surgimento da indústria do hardware ao surgimento da economia de dados, a economia global cresceu significativamente. Este crescimento deve-se a diversos fatores, mas a tecnologia com certeza teve um papel fundamental nesta expansão do PIB global, uma vez que estas indústrias geraram empregos, trouxeram mais eficiência e aumento de produtividade.
Conforme a capacidade de armazenamento e processamento foi sendo expandida, a economia de dados foi sendo desenvolvida. Resumidamente, podemos dizer que a economia de dados é um conjunto de práticas e tecnologias que buscam maximizar o valor dos dados para os agentes econômicos, como empresas, indivíduos e sociedade em geral. Baseada em práticas como coleta, armazenamento, análise e compartilhamento de dados, a economia de dados pode impulsionar ainda mais o desenvolvimento da economia global e resolver, através do uso de dados, problemas que até hoje não conseguimos resolver.
No entanto, o uso desses dados pelas empresas trouxe um debate sobre quem seria o dono de fato desses dados: as empresas ou os indivíduos? A discussão ganhou destaque global, sobretudo depois do caso da Cambridge Analytica, e resultou na promulgação de diversas leis que protegem os dados pessoais dos cidadãos. Estas leis ajudaram a criar um novo segmento de mercado: as PrivacyTechs. Essas empresas utilizam a tecnologia para garantir que a proteção da privacidade seja cumprida.
O mercado potencial das PrivacyTechs é significativo, pois a privacidade dos indivíduos e a proteção de dados pessoais são preocupações crescentes para as empresas e os governos. Além disso, a crescente adesão de empresas a soluções de computação em nuvem e o aumento da necessidade de armazenamento e gerenciamento de dados também estão impulsionando o crescimento da economia de dados.
As oportunidades de mercado incluem o desenvolvimento de soluções de privacidade de dados para ajudar as empresas a entrarem em conformidade com as regulamentações de privacidade, bem como a criação de soluções que permitam aos indivíduos controlar como seus dados são coletados, armazenados e usados — e, em alguns casos, monetizá-los. Espera-se que a demanda por soluções de privacidade de dados continue crescendo à medida que a quantidade de dados gerados e coletados aumenta e as preocupações com a privacidade dos indivíduos continuam a crescer.
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Saúde e paz,
Walter Pereira
https://ourworldindata.org/technological-change#:~:text=Moore's%20Law%20is%20the%20observation,to%20the%20number%20of%20transistors.
https://web.archive.org/web/20151218143336/http://www.technologyreview.com:80/news/425398/a-new-and-improved-moores-law/
http://www3.weforum.org/docs/GCR2018/05FullReport/TheGlobalCompetitivenessReport2018.pdf
Um estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou que a indústria de software e serviços de TI contribuiu com cerca de 4,5% do PIB global em 2015, e espera-se que essa contribuição aumente nos próximos anos.
"The global data economy" (2018): https://www.mckinsey.com/business-functions/digital-mckinsey/our-insights/the-global-data-economy
"Data-Driven: Creating a Data-Driven Culture" (2016): https://www.weforum.org/reports/data-driven-creating-a-data-driven-culture
https://techcrunch.com/2021/04/20/whos-funding-privacy-tech/